'Tento privilegiar a jovialidade e a música contribui muito para isso', diz músico


Aos 77 anos, Erasmo Carlos vive um dos melhores momentos da carreira, iniciada oficialmente na década de 1960. O Tremendão — apelido que lhe foi dado à época da Jovem Guarda — lançou em junho o álbum Amor é isso; na semana passada conquistou o Prêmio UBC. Em 19 de novembro, recebe o Prêmio Excelência Musical em solenidade no Grammy Latino, e, no próximo mês, chega ao circuito nacional de cinema Minha fama de mau, filme de Lui Farias, que mergulha na vida e na obra do roqueiro.
Na adolescência, em 1957, contaminado pela febre do rock and roll, Erasmo montou, no bairro carioca da Tijuca, onde nasceu, a banda The Sputnicks, que tinha como outros integrantes Arlênio Lívio, Wellington Oliveira e os futuros astros da música Roberto Carlos e Tim Maia. Foi Arlênio quem o apresentou a Roberto, capixaba de Cachoeiro de Itapemirim, de quem viria se tornar, tempos depois, “amigo de fé, irmão, camarada” — como cantou na canção Amigo. Para isso, contribuiu a admiração que ambos tinham por Elvis Presley, James Dean e Marlon Brando.
Movimento jovem
Com Roberto e Wanderlea, Erasmo liderou, na segunda metade da década de 1960, a Jovem Guarda, originalmente um programa de tevê de muito sucesso que, sob a influência dos Beatles, se tornaria o primeiro movimento de música jovem no Brasil. Paralelamente à Jovem Guarda, o cantor, compositor e guitarrista daria início à carreira solo, ao lançar o LP A Pescaria. De lá para cá lançaria 30 discos. Num deles, Erasmo convida, de 1980, contou com a participação de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Ben Jor, Gal Costa, Maria Bethânia, Nara Leão e Rita Lee, entre outros.
O Prêmio UBC, recebido por Erasmo no dia 9 último é uma iniciativa da União Brasileira de Compositores, e a homenagem veio em decorrência da sua importante contribuição para a música popular brasileira. É por sua extensa obra — mais de 800 canções — que o Tremendão será homenageado na 19ª edição do Grammy Latino. Ele receberá o Prêmio à Excelência musical em19 de novembro, em Las Vegas (EUA).
Também em novembro, chega às telas de cinema do país Minha fama de mau, o longa-metragem dirigido por Lui Farias, que se baseia no livro de memórias, lançado em 2009, evoca histórias divertidas vividas pelo cantor ao longo da carreira. No filme, o ator Chay Sued é quem dá vida a Erasmo. Gabriel Leone é o intérprete de Roberto; e Malu Rodrigues representa Wanderléa.
Entrevista / Erasmo Carlos
Como se sente aos 77 anos bem vividos?
Tento privilegiar a jovialidade e a música contribui muito para isso. Trabalho bastante e busco me relacionar da melhor maneira com as pessoas que me cercam: familiares, amigos, colegas de ofício, fãs e o pessoal da imprensa, de quem sempre recebo atenção.
O que representou para você ser o escolhido para receber o Prêmio UBC em 2018?
Vejo como uma coisa bonita, uma vez que a escolha foi feita por colegas de profissão. Para mim, é um orgulho saber que a minha obra recebeu deles uma avaliação positiva, a ponto de me atribuir um prêmio dessa importância.
E a homenagem no Grammy Latino tem que importância, na sua avaliação?
Recebo com um misto de humildade e grande satisfação. É uma premiação pelo conjunto da minha obra. Certamente, vou me emocionar muito ao recebê-la.
Se tivesse de fazer uma revisão de seu trabalho, ao longo da carreira, no que buscaria um maior aprimoramento?
Fiz canções que foram consagradas pelo público, tenho o respeito da classe artística, faço muitos shows e tenho recebido vários prêmios. Mas acho que deveria ter dado mais atenção à guitarra, o instrumento que me acompanha, praticamente, desde o início da minha trajetória.
Amor é isso, o novo disco, se caracteriza pelo romantismo. Pelo menos nesse projeto, o rock foi deixado de lado?
Independentemente de estilo ou gênero, o amor precisa estar em primeiro plano, principalmente nos tempos que estamos vivendo, com um clima de tanto acirramento e de violência. Ao contrário de outros discos, nesse canto músicas de outros compositores, entre eles, Arnaldo Antunes, Nando Reis, Samuel Rosa, Marcelo Camelo, Emicida e Adriana Calcanhoto. Estou em apenas duas parcerias, uma com Marisa Monte e Dadi Carvalho (Convite para nascer de novo), e outra póstuma, com Tim Maia (Novo love). A produção é do Pupillo e a direção artística de Marcus Preto.
Qual a visão do Brasil neste momento tão conflagrado?
O Brasil me parece uma coisa sem futuro. Vivemos um momento gravíssimo, com as pessoas se agredindo, como se fossem inimigas, tudo por conta de posicionamento político. Estou muito temeroso com o que vem por aí.