“Se tivesse o VAR (auxiliar de vídeo) desde o início, estaríamos na ponta da tabela do Campeonato Brasileiro”. A afirmação proferida há duas semanas pelo presidente do Cruzeiro, Wagner Pires de Sá, não se sustenta após uma análise detalhada sobre os erros capitais cometidos pelas equipes de arbitragem no primeiro turno da competição.
O time celeste de fato aparece entre os mais prejudicados por decisões equivocadas, empatado com o rival Atlético e seu xará paranaense (quatro lances). Por outro lado, os gigantes mineiros levaram vantagem em três jogadas determinantes cada, atrás apenas de Flamengo, Chapecoense e Ceará, o mais beneficiado. No balanço final, Furacão e Fluminense amargam o pior saldo negativo, segundo levantamento realizado pelo Hoje em Dia.
O número absoluto de ocorrências, contudo, não corresponde necessariamente aos possíveis reflexos na classificação (veja a lista completa e as projeções abaixo).
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A reportagem examinou todos os relatórios divulgados pela Comissão de Arbitragem da CBF neste Brasileirão. As publicações acontecem em média entre três e quatro dias após o término de cada rodada, o que explica o recorte limitado à primeira metade da Série A (o segundo turno já teve duas jornadas disputadas desde então).
No período analisado, foram registradas 40 falhas graves, ou seja, aproximadamente uma a cada 4,7 partidas.
“A comissão trabalha com o objetivo de se aproximar do erro zero, mas há lances que extrapolam a capacidade de acompanhamento humano [...] Não é possível avaliar qualquer quantidade de erro como satisfatória, visto que basta um equívoco para que um resultado seja diferente”, comentou a entidade em nota enviada por meio da assessoria de imprensa.
Projeções
Obviamente, é impossível cravar quais seriam os resultados e desdobramentos se os erros não tivessem sido cometidos. Nada impede um time de virar um jogo tendo um homem a menos em campo, entre outras hipóteses. Este não é, entretanto, o quadro mais provável no futebol.
Desta forma, apenas para efeito de ilustração, a reportagem simulou como ficaria a tabela do turno sem as interferências reconhecidas pela CBF. A primeira projeção considera os lances de gol, pênalti e impedimento. Na segunda, as expulsões foram adicionadas como elemento de desequilíbrio nos placares.
Na derrota do Atlético para o Vasco (2 a 1), por exemplo, o colegiado considera que o meia cruzmaltino Evander deveria ter recebido cartão vermelho aos 17 minutos do primeiro tempo, quando o Galo vencia por 1 a 0. E, no empate entre Vitória e Cruzeiro (1 a 1), o veredito aponta erro do juiz ao não expulsar o atacante celeste David, ainda aos 6 minutos de bola rolando, antes da primeira alteração no placar.
Contrariando o presidente Wagner Pires, a Raposa não sobe de posição em nenhuma das duas simulações (na verdade, chega a cair uma colocação), apesar de ganhar até dois pontos. Vale ressaltar que o clube azul reclama de nove marcações, cinco delas não acatadas pela comissão.
VAR e prejuízos
Já o Galo aparece com até três pontos a mais e chega a integrar o G-4 na segunda projeção, trocando de lugar com o Flamengo. Para se ter uma ideia, a variação de posições neste cenário hipotético representaria para os cofres alvinegros um prejuízo de R$ 6,1 milhões ao término da temporada.
A conta considera as diferenças referentes à premiação da Série A (R$ 1,5 milhão) e à vaga direta na fase de grupos da Copa Libertadores (R$ 5,6 milhões), descontando-se o gasto previsto para a implementação do Árbitro de Vídeo (R$ 1 milhão por clube).
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Já o Furacão, prejudicado em até seis pontos, não somente deixaria de receber um “troco” de aproximadamente R$ 400 mil relativo à décima colocação como ainda sofreria todo o prejuízo de um possível rebaixamento, só para citar mais um caso interessante.
Uma desavença econômica entre a CBF e os clubes impediu que o VAR fosse utilizado já nesta edição do Brasileirão. Antes do início do campeonato, a entidade propôs que as agremiações arcassem com a tecnologia orçada em ao todo R$ 20 milhões. Na Copa do Brasil, o sistema adotado a partir das oitavas de final é custeado pela entidade, cujo orçamento mostra R$ 361 milhões em caixa ao fim de 2017 e projeta um faturamento recorde de R$ 609 milhões para este ano.
Flamengo, Botafogo, Bahia, Chapecoense, Palmeiras, Grêmio e Internacional votaram a favor da divisão, enquanto Corinthians, Santos, América, Cruzeiro, Atlético, Atlético-PR, Paraná, Vasco, Fluminense, Sport, Vitória e Ceará se posicionaram de maneira contrária. O São Paulo se absteve.
“A cada ano, o treinamento melhora para aperfeiçoar as técnicas da arbitragem [...] As situações em que a tecnologia é utilizada mostram que o árbitro de vídeo ajuda a reduzir, mas não elimina totalmente os erros. Não é possível especular o cenário em uma competição sem o VAR”, conclui a nota enviada pela CBF à reportagem.
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