Foram 24 anos de espera até o grito libertador finalmente poder sair do fundo da garganta. E de uma forma inédita não só para o futebol brasileiro, mas mundial. O futebol arte campeão em 1958, 1962 e 1970 e injustiçado pela história em 1982 viu um estilo diferente, de defesa forte, compacta e focado em obter resultados sem a preocupação de encantar tirar o Brasil da fila em 1994. Não só os tupiniquins, mas todo o planeta ainda não tinha visto o escrete canarinho ser campeão de tal forma. O mundo, aliás, ainda não tinha visto um país ganhar a Copa do Mundo nos pênaltis. E o grito de campeão não saiu após um gol, mas após o erro de um adversário. Vinte e cinco anos depois, isso pode ser visto como simbolismo de um título diferente com o Brasil encerrando um incômodo jejum, mas deixando o futebol arte de lado.
Os românticos apaixonados por um jogo bonito, encantador e mágico torcem o nariz para a seleção de Carlos Alberto Parreira, que tinha o lendário Zagallo, campeão como técnico em 1970 e jogador em 1958 e 1962, como coordenador técnico de futebol. O Velho Lobo, novamente presente em um título mundial da seleção, pode até ter estranhado um time sem o futebol arte habitual canarinho, mas gritou diversas vezes ao longo daquela campanha nos Estados Unidos: "Queiram ou não, nós vamos chegar lá!" No entanto, pouco importa. A história eternizou Romário, Bebeto, Dunga, Taffarel, Aldair, Jorginho, Branco, Leonardo, Mauro Silva, Zinho, Mazinho e tantos outros donos de carreiras vitoriosas e repletas de grandes feitos como os caras que tiraram o Brasil de uma incômoda fila. Não à toa, todos eles são celebrados, 25 anos depois, no aniversário daquela épica conquista nos Estados Unidos.
A Colômbia de Valderrama e Asprilla prometia empolgar. A Romênia do craque Hagi brilhava. Os EUA com uma de suas melhores gerações comandada pelo mítico Bora Milutinović jogava empolgada em casa. A Suécia tinha o melhor time de sua história e brilhava com Larsson, Dahlin, Brolin e companhia. A atual campeã Alemanha possuía um time absurdo com lendas como Brehme, Möller, Lothar Matthäus, Rudi Völler, Sammer e Klinsmann. A Espanha tinha um ótimo esquadrão com Begiristain, Guardiola, Luis Enrique e companhia. Na Argentina, Maradona estava em seu capítulo final acompanhado de craques como Redondo, Caniggia, Batistuta, Ortega e Simeone. A Bulgária tinha um timaço liderado pelo gênio Stoichkov. A Bélgica contava com uma equipe muito boa. A Holanda era absurda com os irmãos De Boer, Koeman, Rijkaard, Overmars e Bergkamp. E a Itália de Arrigo Sacchi era um festival de craques: Maldini, Costacurta, Baresi, Donadoni, Albertini, Zola e Roberto Baggio.
No entanto, no meio de tantos gênios, a taça foi erguida por Dunga, o capitão de um time pragmático, mas muito talentoso comandado por Parreira, com Taffarel em estado de graça no gol, uma defesa fortíssima liderada pelo craque Aldair, Mauro Silva sendo um coadjuvante de luxo no meio-campo, Jorginho, Branco e Leonardo indo bem nas laterais, Bebeto jogando demais e Romário sendo o grande nome de uma conquista inesquecível que completa 25 anos.
A justiça e a injustiça no futebol
Dois dos maiores jogadores da história. Gênios absurdos de estilos totalmente diferentes. É curioso como os deuses do futebol quiseram colocar ambos frente a frente em uma decisão de Copa do Mundo e lhes dar um lugar na história tão distinto. Romário não marcou na final, mas se consagrou como o craque e principal nome do time que tirou o Brasil de uma fila de 24 anos. Roberto Baggio, por outro lado, perdeu o pênalti decisivo que deu o título ao escrete canarinho e ficou injustamente marcado como vilão, mesmo tendo sido o gênio que decidiu e salvou a Itália tantas vezes, carregando a Azzurra até a decisão. A ótima carreira e o talento espetacular do ex-camisa 10 infelizmente parecem ser esquecidos, com ele sempre sendo lembrado pelo lance que encerrou a Copa do Mundo de 1994.