Fernando Seabra abriu o jogo sobre a demissão do Cruzeiro. Há pouco mais de dois meses, em 23 de setembro, o clube anunciou a saída do técnico, no dia seguinte ao empate por 0 a 0 com o Cuiabá, na Arena Pantanal, pela 27ª rodada do Campeonato Brasileiro. O comandante havia escalado uma equipe formada por reservas, visto que na quinta-feira seguinte (26/9), no Mineirão, teria o duelo de volta das quartas de final da Copa Sul-Americana, contra o Libertad. A Raposa ganhou a partida de ida por 2 a 0, no Defensores del Chaco, em Assunção, no Paraguai.Em entrevista ao podcast Zona Mista do Hernan, do UOL, Seabra disse que foi pego de surpresa com a decisão tomada pelo dono da SAF, Pedro Lourenço, e pelo CEO de futebol, Alexandre Mattos. A explicação na época era que o time passava por queda de rendimento no Brasileirão, apesar do bom desempenho na Copa Sul-Americana.

 “A gente estava ciente da necessidade de apresentar uma recuperação em relação aos resultados. No Campeonato Brasileiro, tivemos uma queda evidente em relação ao que estava sendo feito no primeiro semestre. Naquele momento, em específico, me pegou de surpresa, sim. Porque a gente sai para fazer dois jogos fora, um contra o Libertad e outro contra o Cuiabá, três dias depois. Eu entendo que fizemos um jogo muito bom contra o Libertad e vencemos, acho que desde o jogo contra o Botafogo foi a nossa melhor partida. Foi um desempenho consistente, a equipe soube se defender bem e foi letal”.

“E aí temos o jogo fora contra o Cuiabá, que é um time complicadíssimo para se jogar fora. Lembro quando a gente sai de Belo Horizonte rumo a Assunção, a temperatura em BH estava por volta de 22º, e lá estava 32º à noite, no momento do jogo. Três dias depois, vamos jogar em Cuiabá, carregando não só o cansaço desse jogo, mas também da temporada, sabendo que tínhamos que tomar decisões individuais (escolha por atletas). O time naquele momento deu uma resposta boa e sinalizou que essa reação iria se consolidar. Realmente o jogo contra o Cuiabá não foi um desempenho de encher os olhos, um jogo que mais competimos do que tivemos inspiração, mas nós conseguimos, na reta final do jogo, ser mais agressivos para buscar o resultado. Mesmo com a expulsão (de João Marcelo, aos 36 minutos do segundo tempo), tivemos chances de gol. Então você sai para jogar dois jogos fora de casa e volta com quatro pontos você não espera ser demitido nesta hora”.

Fernando Seabra: ‘Não guardo mágoas’

Apesar da frustração por ter saído do Cruzeiro, Seabra garante que não guarda mágoas de Pedrinho e Mattos. Inclusive, o treinador ressaltou que teve o respaldo dos dirigentes no momento em que não conseguiu entregar bons resultados. Para ele, o fato de dividir as atenções entre a Série A e as copas complicou a Raposa e outras equipes do futebol brasileiro. Isso porque não há tempo hábil para treinar de forma adequada. Muitas vezes, os atletas praticamente só descansam entre uma partida e outra.

 “Esses caras têm que tomar decisões. Pode ter sido acertada, errada. O tempo é que vai dizer as coisas. Qualquer argumento que possamos falar, será especulativo. De uma forma geral, não esperava sair naquele momento. Mas entendo que eles me deram respaldo em muitos momentos que não entreguei resultado. As oscilações que tivemos de resultados, todas as equipes que estavam disputado copas – Libertadores, do Brasil ou Sul-Americana – estavam apresentando. O Vasco teve queda de desempenho no Brasileiro, o Athletico-PR, o Corinthians, vamos falar de vários times. O São Paulo voltou a vencer no Brasileiro depois que foi eliminado das copas. A equipe que está disputando uma copa recupera, preparação de jogo e jogo. Não tem treino aquisitivo. No futebol brasileiro não se treina”.

Contratado ainda na gestão do ex-jogador Ronaldo Fenômeno, Fernando Seabra encarou a missão de substituir o argentino Nicolás Larcamón, que perdeu a final do Campeonato Mineiro para o Atlético e foi eliminado na primeira fase da Copa do Brasil para o Sousa (PB), da Série D do Brasileiro. À frente da equipe em 2024, o profissional de 47 anos contabilizou mais de 56% de aproveitamento, com 17 vitórias, oito empates e 10 derrotas.

No primeiro turno do Brasileirão, a Raposa chegou a sonhar com o título, já que somou 33 pontos, na quarta posição (o Botafogo, líder, tinha 40). Com os tropeços na segunda metade da Série A, o time deu mais atenção à Sul-Americana. Contudo, a direção entendeu que a troca de técnico era o melhor caminho e buscou Fernando Diniz em 24 de setembro.

Embora pense que a decisão do clube tenha sido precipitada, Fernando Seabra fala em “gratidão”, pois se tornou mais bem requisitado no mercado.

“A minha preocupação foi também com o próprio Cruzeiro, com o grupo de jogadores, pensei: ‘será que isso será melhor agora para trazer o resultado?’. Porque quando o treinador entende que a saída dele vai ser o melhor para trazer o resultado é muito tranquilo, mas eu também não tinha convicção nenhuma disso. Pelo contrário, eu estava convicto e confiante de que a gente iria definir contra o Libertad em casa, vencer o jogo e que todo aquele momento iria virar a partir dali. Mas não guardo mágoa, saí com o sentimento de realização, gratidão e triste por não ter continuado”.

Fernando Seabra, em entrevista ao jornalista André Hernan

 

Sequência de Seabra pós-Cruzeiro

Um mês e uma semana após sair do Cruzeiro, Fernando Seabra acertou com o Bragantino para substituir Pedro Caixinha. O clube administrado pela companhia de bebidas energéticas Red Bull está na zona de rebaixamento do Brasileiro, em 18º lugar, com 37 pontos. Em quatro partidas, o treinador ainda não venceu: empatou com Cuiabá (0 a 0), Atlético-GO (0 a 0) e São Paulo (1 a 1) e perdeu para o Internacional (4 a 1). De acordo com o Departamento de Matemática da UFMG, a probabilidade de descenso do Massa Bruta para a Série B é de 61,6%.

O Cruzeiro também caiu de produção desde a saída de Fernando Seabra, visto que Fernando Diniz tem retrospecto de duas vitórias, quatro empates e cinco derrotas em 11 jogos. O técnico campeão da Libertadores pelo Fluminense levou o time celeste à final da Sul-Americana, porém perdeu o título para o Racing, da Argentina (3 a 1), em embate marcado por falhas defensivas e na saída de bola no Estádio General Pablo Rojas (La Nueva Olla Azulgrana), em Assunção, no Paraguai. No Brasileiro, a Raposa está na sétima posição, com 47 pontos, e tem 32,6% de chance de se classificar para a Copa Libertadores de 2025, conforme a UFMG.

 

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