Entre as inúmeras estatísticas dos primeiros 56 jogos da Copa do Mundo (a primeira fase e as oitavas de final), uma, curiosa, chama a atenção. Nunca antes na história da competição as seleções jogaram tanto contra o próprio patrimônio. Com oito partidas restantes, o número de gols contra já é recorde – 10 –, assim como o percentual, passando o Mundial da Suíça (1954), em que houve quatro para 26 confrontos.
Sinal de que as defesas andam batendo mais cabeça? Que falta coordenação na marcação?Não necessariamente. Mas reflexo, provavelmente, das mudanças no futebol atual, com movimentação muito maior e a preocupação em congestionar a proximidade das áreas com jogadores para marcar e fechar espaços.
Além disso, o que por décadas foi uma decisão interpretativa do árbitro com base na observação de campo e na dinâmica do lance (se houve apenas um leve desvio ou uma ação mais visível), hoje também conta com a ajuda da tecnologia. O árbitro de vídeo (VAR), com todas as imagens de cada jogada, pode auxiliar a equipe do estádio esclarecendo o verdadeiro responsável pela bola na rede.
E entre os gols contra da Copa da Rússia, houve de tudo: partida decida num momento de infelicidade (a vitória do Marrocos sobre o Irã por 1 a 0, graças à intervenção desastrada de Bouhaddour); brasileiro lamentando (o zagueiro naturalizado polonês Thiago Cionek, na derrota por 2 a 1 para Senegal) e jogador que balançou as redes do jeito certo três vezes surpreendendo o próprio goleiro. Foi o que ocorreu com o meia russo Cheryshev na derrota por 3 a 0 para o Uruguai. Os anfitriões, aliás, haviam sido beneficiados por um gol contra na partida anterior (3 a 1 sobre o Egito). E como comprova a presença da Rússia entre os oito melhores, o deslize de um de seus destaques não pesou na campanha.
O empate em dois gols entre Suíça e Costa Rica acabou marcado por um lance mais do que insólito. No pênalti cobrado por Bryan Ruiz já nos descontos, a bola, depois de tocar o travessão, acabou encontrando caprichosamente nas costas do goleiro Sommer, que foi para a súmula como o autor do gol.
Morte
Se em quatro Copas sequer houve gol contra, um em especial acabou entrando de forma trágica para a história do futebol. No Mundial de 1994, a Colômbia acabou batida pelos donos da casa por 2 a 1 – o zagueiro Andrés Escobar, ao tentar desviar um cruzamento, presenteou os norte-americanos. Meses depois, acabou assassinado em Medellín na porta de uma boate, depois de uma discussão envolvendo o lance. Embora não comprovado, suspeita-se que o crime tenha sido encomendado por apostadores, insatisfeitos com o episódio.