Os tapumes maciços passam completamente fora do alcance da visão turística de quem chega ao elegante Krestovsky Stadium. Ninguém quer olhar para paredes removíveis de um bege morto enquanto é possível admirar a flutuação dos futuristas viadutos que passam através do Rio Neva.
Mas as fretas da cortina de concreto escondem os entulhos da obra mais superfaturada da Copa do Mundo de 2018. O lixo está escondido, mas é possível acessá-lo com observação. O que não se pode notar, mesmo vasculhando cada centímetro de São Petersburgo é o trabalho escravo e a corrupção que marca o palco de Bélgica x França ontem, na semifinal do Mundial.
Foram R$ 4,2 bilhões gastos numa obra que teria um valor inicial seis vezes menos. Empreiteiras aumentaram o valor, desistiram da obra, foram embora com o dinheiro dado pela população russa. Alguma coisa similar com Mané Garrincha, Maracanã?
A diferença para o estádio de Brasília é que o arena de São Petersburgo servirá para o Zenit, um dos principais clubes do país, campeão da Liga Europa 2008. Quem poderia levar alguns jogos ao gigantesco palco de 68 mil lugares era o atual campeão da Copa da Rússia.
Porém, ele sequer poderá atuar no Petrovsky Stadium, a outra arena da cidade, com capacidade menor. O Tosno FC, pequena agremiação surgida na década passada, foi o verdadeiro "Juventude 1999" da Rússia na temporada passada. Tinha passaporte certo para atuar na Liga Europa. Mas ao passo em que a cidade onde ele está hospedado ergue uma arena de bilhões de reais, o clube desapareceu do mapa por problemas financeiros.
Sem condições de se manter profissionalmente, o Tosno perdeu a licença da Federação Russa, foi rebaixado à segunda divisão (na bola, é verdade), mas alegou falência através da empresa que mantinha o clube - o Grupo Fort, cujo o dono anunciou o fim da entidade esportiva através de uma nota no facebook.
A saída do Tosno de cena beneficiou diretamente o próprio Zenit, que herdou a vaga para participar da Liga Europa a partir da terceira rodada eliminatória antes da fase de grupos. O FC Krasnodar, cujo o estádio com telão em 360º foi esquecido na Copa, é quem irá direto para os chaveamentos da Liga Europa no lugar do inexistente FC Tosno.
O pequeno clube da região de São Petersburgo morreu, mas não sozinho. Outro time dissolvido na mudança de temporada é FC Amkar Perm, nos Montes Urais. Anunciou que não existirá após a Copa do Mundo, igualmente sem dinheiro para se manter. O Amkar era tido como um "Robbin Hood" do campeonato. Tanto que chegou a vencer o Lokomotiv, que se sagraria campeão, nos jogos de ida e volta da Liga.