Irmã mais nova do atleta, Juliana Sant'ana, se espelha nos passos do irmão

O judô é uma tradição na família Sant’ana. O primogênito, Leonardo, pisou no tatame pela primeira vez com um ano e oito meses de idade. Aos quatro, já competia e ganhava de crianças com seis anos. De lá pra cá, o atleta, hoje com 17 anos, ganhou mais medalhas do que poderia imaginar. Ao todo, são mais de mil. Campeão de tudo na categoria pesado (acima de 90kg), o ano de 2018 foi especialmente recheado de conquistas para o judoca. Títulos estadual, Brasileiro Regional, Brasileiro Nacional, Pan-Americano, Sul-Americano e Mundial Escolar.
O último ouro do ano veio nos Jogos Escolares da Juventude (JEJ), encerrado no último fim de semana de novembro, em Natal. “Meu principal objetivo este ano era ser campeão mundial escolar e eu consegui, lá no Marrocos. É a maior competição escolar do mundo. O segredo é querer sempre mais, nunca estar satisfeito com o que tenho agora. Quando vejo alguém nas Olimpíadas ou no Mundial, sempre tenho a vontade de estar lá e não ficar só assistindo”, explica o faixa preta.
Atleta da Seleção Brasileira de judô desde os 12 anos, Leonardo conta com a dedicação integral dos pais para continuar evoluindo. Faixa preta, o pai do judoca, Ronei Sant’ana, é também seu treinador. Os treinos acontecem dentro da própria casa. “Treinamos dentro da sala de casa. Gravamos os trabalhos para ver os erros e consertá-los. Trazemos para academia o que fazemos em casa. Não gosto de mostrar o que treinamos, então treinamos sozinhos e tentamos aplicar nas lutas. Se não conseguir, volta e faz de novo”. Já a mãe, Luciana, que é pedagoga e psicóloga aposentada, é faixa marrom.

Um gigante

Além do esporte, o atleta também herdou da família o tipo físico. O pai tem 1,87m, a mãe, 1,72m, e seu avô tinha 2,17m. Desse modo, com 17 anos, Leonardo tem 1,90m e pesa 158 quilos. Como em Pernambuco não é comum aparecer atletas desse porte, a falta de material humano levou o judoca a se filiar a Federação Gaúcha. Desde o ano passado o atleta se divide entre Porto Alegre e Recife. Segundo o pai, neste ano Leonardo passou nove meses treinando na Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa), na capital do Rio Grande do Sul. No entanto, por ser aluno da Escola de Aplicação do Recife, Leonardo compete por Pernambuco nos jogos escolares.
Apesar da rotina corrida de treinos e competições, o judoca não descuida dos estudos e é excelente aluno. “Conquistei duas medalhas nas Olimpíadas Brasileiras de Matemática (OBMEP) e fiquei em 2º lugar no Concurso Nacional de Redação”. Além disso, Leonardo garante que mesmo com toda expectativa em torno do seu futuro no judô, a sua prioridade é se tornar médico. “Vou conciliando até onde der. Se precisar eu dou um tempo no judô. Tenho sonho de ir para uma Olimpíada, para seleção principal, mas o principal é ser médico e me formar”, explica o judoca.
Falando em Olimpíada, Leonardo foi convocado pela Federação Brasileira de Judô para participar da seletiva olímpica que acontece dia 12 de dezembro, no Centro Pan-Americano de Judô, em Lauro de Freitas, na Bahia. A meta do atleta, no entanto, é se classificar apenas para os Jogos de 2024. “É muito difícil se classificar para 2020. Participar da seletiva com apenas 17 anos já é uma honra muito grande. A seletiva olímpica não tem limite de idade, é muito difícil um atleta sub-18 ser convocado”, conclui o judoca.

A Caçula

Marina Curcio/DPA união familiar em torno do judô é um dos segredos do sucesso dos irmãos no tatame

Caçula da família, Juliana Sant’ana cresceu assistindo os treinos e as conquistas do irmão. Até que decidiu ir atrás das suas. Com 1,80m, 112 quilos e apenas 12 anos, a atleta também tem se destacado. Somente este ano conquistou o Campeonato Estadual, Campeonato Brasileiro Regional e Nacional, foi vice-campeã Pan-Americana e terceiro lugar no Sul-Americano. Além disso, passou a integrar a Seleção Brasileira sub-13 pela primeira vez.
”Ela participou do Sul-Americano e 24 horas depois estava participando dos Jogos Escolares da Juventude. Machucou o joelho nas quartas de final, mas saiu do JEJ sem nenhuma derrota. O que foi importante. Ela tem 12 anos e só lutou com meninas de 14. Fisicamente ela tem condições, mas mentalmente, não. Uma menina de 14 anos pensa mais rápido e executa dribles que ela não consegue ainda”, explica o pai e treinador, Ronei.
Por causa da sua estatura, a maior dificuldade enfrentada por Juliana é a falta de oponentes do seu tamanho com quem possa treinar. “Meu pai me ensina e como não tem com quem lutar, eu executo os golpes nele mesmo. Nele e no meu irmão”. A judoca acredita que a união formada na família por causa do esporte é fundamental na sua formação. “Uma coisa é fazer uma coisa sozinha, outra coisa é fazer em família. É muito mais divertido, podemos ajudar um ao outro e eles têm muito mais experiência em competições. Podem me ajudar a melhorar”, pondera.
Apesar disso, Juliana entende que precisa se distanciar do irmão famoso e ir em busca de reconhecimento próprio. “Quero seguir a carreira de atleta e sair da sombra do meu irmão. Sempre me conhecem como ‘irmã do Leozão’ e nunca sabem meu nome. Então eu quero ganhar minhas coisas. Faço judô porque eu gosto de fazer”, conclui.