Mineiros traçam logística especial para jogar no país que vive crise política e social; Conmebol monitora situação
A Venezuela vive uma grave crise socioeconômica e política. Inflação incontrolável, escassez de alimentos e violência já resultaram no êxodo de mais de 3 milhões de venezuelanos. Por determinação de Nicolás Maduro, cujo governo é considerado ilegítimo pelo Brasil e mais de 50 países, a fronteira está fechada em Pacaraima (RR) desde o último dia 21.
O país vizinho vive hoje seu momento mais crítico. E é justamente neste período que Atlético e Cruzeiro têm compromissos marcados na Venezuela pela fase de grupos da Copa Libertadores da América. A Raposa enfrentará o Deportivo Lara, no dia 23 de abril, pelo grupo B, e o Galo encarará o Zamora, no dia 7 de maio, pela chave E.
As diretorias dos times mineiros estão atentas à situação venezuelana e precisarão de uma logística diferente do normal, a começar pelo deslocamento. Há quase dois anos não há voo direto do Brasil para a Venezuela, ou seja, é necessário o fretamento de uma aeronave para uma viagem menos desgastante.
Mas nem as companhias brasileiras têm mostrado interesse em fretes para lá – apenas as estrangeiras. A opção de voo comercial seria via Panamá. Chegando à capital Caracas, os clubes mineiros também terão viagens locais a fazer. O Cruzeiro vai jogar em Cabudare, a 360 km de distância da principal cidade do país, e o Galo, em Barinas, a mais de 500 km.
Os rivais mineiros são os únicos times brasileiros que jogarão na Venezuela na Libertadores deste ano – pelo menos, na primeira fase.
As diretorias de Atlético e Cruzeiro vêm mantendo o contato com a Conmebol para afinar o planejamento. “Já enviamos à Conmebol a nossa programação de viagem para ver se existe algum problema, para eles entrarem em contato com as autoridades locais e ver se a partida realmente acontecerá lá. Todas as situações estão sendo avaliadas, inclusive a de levar alimentos”, explicou o gerente de futebol celeste Marcone Barbosa.
Prevenção
O SUPER FC entrou em contato com a Conmebol para verificar como a entidade está acompanhando a crise humanitária. Segundo a confederação, não há, neste momento, motivos para adiamento, cancelamento ou transferência de jogos para outros países.
Na última terça-feira, a partida entre Caracas e Melgar, do Peru, pela terceira fase prévia da competição, no Estádio Olímpico de la Universidad Central de Venezuela, em Caracas, contou com cerca de cem seguranças. Devidos aos problemas econômicos e de transporte, o jogo teve um público bem pequeno.
Sabendo do momento do país, a Conmebol enviou o delegado da partida com uma semana de antecedência – normalmente, ele chega à cidade do jogo dois ou três dias antes.
A diretoria de competições também tem trabalhado diretamente com a Federação Venezuelana de Futebol, a fim de evitar contratempos.
“Não viajar”
Não há, até o momento, quaisquer tratativas com autoridades brasileiras no sentido de auxiliar as delegações de Cruzeiro e Atlético no deslocamento até a Venezuela. Questionado pelo SUPER FC, o Ministério das Relações Exteriores enviou informações básicas para brasileiros que queiram viajar para o país vizinho. O item sobre as Recomendações de Viagem é claro: “não viajar”, destacado em vermelho no site do órgão. As avaliações do Itamaraty consideraram o contexto de infraestrutura, segurança e saúde, bem como a situação geral do país escolhido como destino, para avaliar os riscos potenciais de uma viagem. Com o fechamento da fronteira, brasileiros que vivem na Venezuela precisam negociar sua travessia com a guarda local, algo que não tem sido fácil e tem gerado conflitos.
Recente
Em 2014, o Atlético, que ainda contava com o futebol de Ronaldinho Gaúcho, enfrentou o mesmo Zamora, na cidade de Barinas, a mesma onde vai jogar desta vez. Naquela época, ano seguinte à morte de Hugo Chávez, episódio que marcava todo o início da crise na Venezuela, já havia certo descontentamento da população e problemas de abastecimento, mas nada como agora.
Futebol à parte
Política
Os governos do Brasil e da Colômbia reconheceram o presidente autoproclamado Juan Guaidó como líder da Venezuela, situação que explica a decisão de Maduro de fechar as fronteiras tanto no lado brasileiro quanto no lado colombiano. O presidente venezuelano tenta barrar a ajuda humanitária oferecida pelos Estados Unidos e por países vizinhos, como são os casos de Brasil e Colômbia. Maduro, porém, entende essa ajuda como interferência externa na política venezuelana.
Tranquilidade
No dia 7 de fevereiro, os venezuelanos do Deportivo La Guaira e os colombianos do Atlético Nacional se enfrentaram em Caracas, pela partida de ida da segunda fase prévia da Copa Libertadores deste ano. Apesar da relação política estremecida entre os países, não houve registros de incidente. Mas, a exemplo do jogo entre Caracas e Melgar, que aconteceu três semanas depois, o estádio estava vazio. A equipe colombiana venceu por 1 a 0 e, com o empate no segundo jogo, se classificou.