“Futebol é um esporte forte, esporte de homens”. A frase foi dita nesta semana pelo treinador Juan Carlos Osorio, da seleção mexicana, após a derrota de seu time para o Brasil, pelas oitavas de final da Copa do Mundo, e revela o quanto o machismo está impregnado na cultura do futebol. Não bastasse o preconceito, as mulheres ainda enfrentam um cenário que faz transparecer outro entrave: salários extremamente desiguais em relação aos que são pagos aos homens e a falta de investimento de patrocinadores e de apoio da grande mídia acabam por dificultar ainda mais uma realidade que já é difícil de ser enfrentada. E pior: distante de ser modificada.
As mulheres têm de conviver com uma desigualdade imposta pela própria Confederação Brasileira de Futebol. Em 2017, enquanto os homens recebiam R$ 500 pela diária em treinamentos, o valor repassado às atletas era precisamente a metade. Em dias de jogos fora do Brasil, a diferença aumenta: cada jogador da seleção masculina ganhava cerca de R$ 1.600; no time feminino, o valor não ultrapassava os mesmos R$ 250 da diária de treinos.
O treinador da seleção brasileira feminina, Oswaldo Alvarez, o Vadão, comentou a declaração do treinador mexicano e disse ao que, além do preconceito, o futebol feminino enfrenta problemas que vão da falta de visibilidade e apoio da grande mídia à concentração de investimentos no futebol masculino.
“O Osorio disse recentemente que futebol é esporte para homem, e isso não existe. A barreira que o futebol feminino tem que enfrentar não está só no machismo, mas também é cultural, porque o Brasil não abraça o futebol feminino como deve. Se não tem divulgação, se a TV não transmite os jogos, como o patrocinador vai investir? Se você não adquire receita, como vai pagar bem as atletas?”, questiona o treinador.
Um estudo da “Sporting Intelligence” revelou um dado que expõe o abismo que separa os universos masculino e feminino no futebol. O salário que Neymar recebe no PSG, que gira em torno de R$ 140 milhões anuais, seria suficiente para pagar 1.693 jogadoras de sete ligas de destaque – França, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, Suécia, Austrália e México.
No início da Copa, surgiram comparações entre Marta e Neymar e as seleções feminina e masculina. A jogadora tem mais gols pela seleção até que Pelé. “Acho que não é o momento para tais comparações. Gostaria que postagens como estas sejam lembradas em ano de Copa do Mundo Feminina e muitas outras competições importantes que disputamos, assim como foi a Copa América desse ano e pouco foi se falado”, destacou a atacante Cristiane em uma rede social.
Disparidade
Os números mostram o quanto a realidade do futebol muda de acordo com o gênero. Em 2015, a seleção americana feminina foi campeã mundial. Como prêmio, as jogadoras receberam US$ 2 milhões. Embora tenham sido eliminados nas oitavas de final da Copa de 2014, os jogadores dos EUA faturaram US$ 9 milhões. Uma relação dos cem atletas mais bem-pagos do mundo, divulgada em 2016, mostra a disparidade no esporte. Apenas duas mulheres – as tenistas Serena Williams (40ª) e Maria Sharapova (88º) – aparecem no ranking. Naquele ano, Cristiano Ronaldo encabeçou a lista, seguido por Lionel Messi.