Ex-lutador do UFC elogia jovens como Borrachinha e vê vôlei como exemplo

Ex-lutador do UFC e ícone do MMA no Brasil, Vitor Belfort encerrou a trajetória de 22 anos como astro do octógono para se dedicar ao empreendedorismo. Mas o Fenômeno não se afastará do esporte. Ele lançará um novo estilo de treinamento fitness, iniciado em sua academia na Flórida, e terá ainda um canal no YouTube com entrevistas. Em visita à redação do Superesportes, no Jornal Estado de Minas, o mais jovem campeão do Ultimate Fighting Championship comentou sobre o futuro do esporte e os próximos passos na vida pessoal.
Belfort conquistou o torneio dos pesos pesados do UFC, em 1996, com apenas 19 anos, na 12ª edição do evento, momento bem diferente do atual, com mudança nas regras e o crescimento da organização e do próprio esporte. O Fenômeno, apelido recebido no começo da carreira, faturou o cinturão dos meio-pesados diante de Randy Couture, em 2004, e voltou a disputar o título em 2011, 2012 e 2015, quando foi superado por Anderson Silva, Jon Jones e Chris Weidman, respectivamente.
A trajetória no octógono do UFC terminou em maio, no Rio de Janeiro, na derrota por nocaute para Lyoto Machida. Belfort vai se dedicar a novos projetos, mas ainda tem o MMA como foco. Ele vê o esporte em uma fase delicada, motivada pelo interesse financeiro. E disse que o Brasil precisa de inovação para evoluir e aproveitar bem os talentos para formar atletas de ponta nas artes marciais mistas. O Fenômeno considera o vôlei como um exemplo a ser seguido.
Confira alguns trechos da entrevista com Belfort
Como você avalia o MMA hoje, principalmente no Brasil?
O esporte cresceu muito no Brasil, mas as pessoas precisam se educar, entender o que é o esporte. O MMA hoje é puro entretenimento. Os lutadores querem imitar os outros, com isso pensam em ser milionários. É preciso empreender com amor, falta isso aos atletas, conhecer o que é o esporte. O MMA precisa de inovação, para formar novos ídolos é preciso valorizar quem abriu as fronteiras
O que é preciso para mudar essa mentalidade no esporte?
O MMA é o esporte número dois em audiência no Brasil, há alguns anos. O vôlei tem estrutura, o futebol para mim não é esporte, é uma religião. O vôlei tem empreendedores. Olhem o exemplo do Minas, um dos melhores clubes do mundo. Tem estrutura, base. O MMA precisa copiar o vôlei nesse aspecto. O vôlei inovou, se tivesse naquela época de vantagem, como passaria na TV hoje? O vôlei não tem o valor que merece, é mais entretenimento que o futebol. O vôlei está muito aquém do que poderia ser, é um esporte que tem gerações de muitos anos. O MMA é evoluído, mas precisa ser bem administrado no Brasil, copiar o vôlei e ainda fazer melhor
O Brasil sempre forma bons atletas, como Paulo Borrachinha, que é de Contagem e vai conquistando espaço. Como podemos aproveitar esse potencial de formação?
Temos o Paulo Borrachinha e outros milhares espalhados pelo país. Mas é preciso educá-los. O Borrachinha precisa ser educado, preparado para ser o próximo ídolo. É preciso ensinar as pessoas, ter boa monitoria com bons representantes. O problema no Brasil é que o povo não tem entendimento do que acontece. O problema no país é a falta de liderança, em todos os aspectos. O MMA hoje é assim: quanto mais você desrespeita, mais vende. É um esporte de contato, é preciso respeitar o adversário no nível mais máximo. Se não for assim, ensinaremos a próxima geração a fazer cada vez mais errado
Os Estados Unidos são outro exemplo para uma formação profissional no MMA?
É onde se paga os atletas. Quem não sairia do Brasil hoje, se pudesse? Segurança, educação...Quem não gostaria de viver lá? É preciso fazer o a Brasil crescer, inovar em tudo. O MMA é como a política, precisamos ter líderes que possam fazer a diferença O Brasil não é confiável. Temos muita qualidade e valor humano, mas não existe administração. Precisamos colocar a liderança no lugar certo