Com tradução de Flávio Marinho, peça mostra um casamento de conveniência entre dois heterossexuais

É com entusiasmo que Eri Johnson, 56, exalta as virtudes de “Um Casamento Feliz”, sua mais recente investida nas artes cênicas. “O público apreciador de teatro não pode perder, inclusive porque é um gênero nem sempre frequente nos palcos do Brasil”, diz, referindo-se ao Vaudeville, segmento umbilicalmente atrelado à França.

Aliás, foi exatamente nesse país que o texto original, “Le Gai Mariage”, foi criado por Gerard Button e Michel Munz. Com tradução e adaptação de Flávio Marinho, a peça, que estreou no início do ano no Rio de Janeiro, chega agora à capital mineira, com sessões sexta (29) e sábado (30) no Teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube.

Em cena, Eri é Henrique, um rapaz que só terá acesso à herança deixada pela tia se cumprir a condição exigida por ela: se casar. Na verdade, o testamento é ainda mais específico: além de contrair matrimônio, Henrique deverá permanecer com a aliança na mão esquerda ao menos por um ano. Nesse período, receberá visitas esporádicas de um oficial de Justiça.

Bem, ocorre que o moço é um solteirão convicto. E heterossexual de carteirinha. Acuado, Henrique resolve, sim, se casar – mas ficticiamente, com um amigo, Dodô (Renato Rabelo). Na verdade, o personagem está seguindo o conselho de seu advogado, Roberto (João Lima Jr), que vê nessa alternativa a solução para o cliente colocar logo a mão na grana. Dodô, vale ressaltar, é também um proclamado heterossexual.

Mas o inusitado é que a vida de casado passa a agradar sobremaneira a ele – para desespero total de Henrique, que quer porque quer trazer o amigo “de volta à real”. Não bastasse toda essa barafunda, ainda entram em cena outros atores, como o que faz o pai do personagem principal, Edmundo, um viúvo religioso até a medula. Na verdade, até então Edmundo vinha sendo interpretado pelo veterano Raymundo de Souza, mas, na passagem pela capital mineira, é Carlos Magalhães quem vai defender o papel.

“O grande barato disso tudo, e posso falar já de cara, é que esse pai é que é o gay do espetáculo”, diz Johnson, sem medo de dar “spoiler”. “Não tem problema revelar isso. O grande barato é a maneira como ele vai chegar ao ponto de falar que é”, afirma.

Um quinto personagem entra em cena para adicionar mais pitadas de confusão à trama: trata-se da nova namorada de Henrique, vivida por Rayane Morais.

Adaptação. Embora a peça tenha nascido na França, foi na Espanha que o ator João Lima Jr., que integra o elenco, a viu sendo encenada. “Na verdade, esse texto está sendo montado simultaneamente em Paris, Madri e em Londres”, conta Johnson, lembrando que Lima Jr. tratou de comprar os direitos da montagem.

“Mostramos para o Flávio Marinho, que, após ler, chegou e disse: ‘E-ri John-son, que maravilha isso!’ Se você me garantir que vai fazer, traduzo e adapto”, lembra o ator, que, claro, prestou seu juramento ao amigo. “E o Flávio trouxe a trama para o Brasil de um jeito que você acha que ela nasceu aqui. A situação se passa no Rio, mas essa localização geográfica é o que menos importa. E isso de todos os personagens terem uma história dentro da história é fascinante tanto para quem assiste quanto para quem faz”, analisa ele.

Serviço. Espetáculo “Um Casamento Feliz”, sexta (29) e sábado (30), às 21h, no Teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube (rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos a R$ 80 (inteira)