Sete em cada dez professores da educação básica no país descumprem a carga horária reservada por lei para o planejamento das aulas. A busca pela melhoria do salário obriga muitos profissionais a trabalhar em mais de uma instituição de ensino, o que faz com que eles deixem de usar o tempo disponível para as atividades extraclasse.
Os dados constam em pesquisa divulgada pela ONG Todos pela Educação. Ao todo, foram ouvidos 2.160 docentes de escolas públicas e particulares.
Pela Lei Nacional do Magistério, de 2008, os professores de instituições públicas devem dispor de um terço da carga horária para desenvolver conteúdos para os alunos. Nesse caso, por exemplo, um educador que tem a jornada de 24 horas por semana é obrigado a usar oito delas exclusivamente para o preparo das aulas, fora de sala. Porém, essa não é a realidade de muitos docentes.
Que o diga a professora Marluza Sterber. Ela se divide entre lecionar alfabetização em uma escola municipal e o trabalho na biblioteca de um colégio estadual, ambos no Barreiro, em BH. A rotina não para por aí. A educadora ainda ajuda na loja de rações da família. “É cansativo, mas só dou conta porque amo o que faço”.
A educadora Marluza Sterber afirma que muitos docentes se dedicariam a apenas uma escola se tivessem um salário melhor; a redução na carga horária de trabalho, segundo ela, até ajudaria os profissionais a ter melhor qualidade de vida
Prejudicado
Para a pesquisadora Mônica Correia, da Faculdade de Educação da UFMG, a corrida pela complementação de renda é degradante. Além disso, segundo ela, o trabalho, que depende da troca de experiências e de planejamento, fica inviável para quem exerce a atividade em escolas diferentes. “E isso de manhã, tarde e noite”.
A utilização de um terço da carga horária para atividades extraclasse é defendida pela gerente de Projetos do Todos pela Educação, Caroline Tavares. “Além disso, a dedicação exclusiva a apenas uma escola, com 40 horas por jornada semanal, evitando que o professor fique trocando de locais de trabalho durante o dia e aproximando-o dos colegas”.
Rede privada
Entre os docentes da rede particular, o excesso de atividades extraclasse é a principal queixa. Segundo o Sindicato dos Professores de Minas Gerais (Sinpro), além do planejamento, os funcionários precisam estar disponíveis quando não estão na escola. “São abordados com solicitações via WhatsApp e e-mail quase que o tempo todo pela instituição”, afirmou Valéria Morato, presidente da entidade.
A categoria propõe adequar o período de trabalho fora de sala ao que é ditado pela lei do magistério. Atualmente, a relação é definida por acordo coletivo, firmado entre empregadores e professores. Em nota, o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep) afirmou que os colégios estão abertos ao diálogo referente às demandas citadas. As secretarias Municipal e Estadual de Educação foram procuradas para falar sobre o assunto, mas não se pronunciaram até o fechamento desta edição.