Em julho, negócios aceleraram 7% depois de uma longa estagnação. Queda dos juros e ampliação do crédito ajudaram


São Paulo – Faz um bom tempo que o setor automobilístico brasileiro tem produzido boas notícias em série. A combinação de queda dos juros, aumento da oferta de crédito pelos bancos e ligeiro aumento da confiança do consumidor resultou em maior movimento nas lojas e concessionárias.

No mercado de veículos zero-quilômetro, o avanço já é bem conhecido. De acordo com recentes projeções, as vendas deverão crescer 20% neste ano, eliminando em parte a crise dos últimos anos.

A novidade é que o segmento de usados também começa a ganhar força. Segundo a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), as vendas de veículos seminovos encerraram o primeiro semestre praticamente estáveis, com alta de 0,3% em relação ao mesmo período de 2017.

Até aí, não há o que comemorar. O que surpreendeu o mercado foram os resultados de julho, quando os negócios aceleraram 7% na comparação com o mês anterior, de acordo com a entidade.

“A oscilação se explica principalmente pelo período de indefinição do quadro político com os resultados das eleições”, diz o presidente da Fenauto, Ilídio dos Santos. Em números, o setor de usados negocia a média de 1 milhão de unidades por mês, quase cinco vez mais do que a categoria de novos.

Outro termômetro do avanço é o ritmo de negócios fechados por meio de financiamentos. Em julho, a assinatura de contratos cresceu 5,2% em comparação com o mesmo período de 2017, segundo a B3, empresa criada a partir da fusão entre BM&FBovespa e Cetip, que opera o Sistema Nacional de Gravames (SNG). No mês anterior, em junho, a alta havia sido de 3,2%.

“Tudo conspira a favor do cliente, principalmente porque as lojas de usados estão oferecendo taxas muito semelhantes à das concessionárias de veículos zero-quilômetro”, afirma o economista Fabiano Souza, consultor de finanças pessoais e professor de economia da Universidade Metodista. “A lógica é simples: para comprar um carro novo, o consumidor vende o seu usado. E, pela lei da oferta de demanda, quanto maior o número de veículos no mercado, maiores as opções de encontrar um bom negócio.”

Outra razão que leva o consumidor aos usados é o preço, já que o valor do zero-quilômetro não para de subir. A média entre os sedãs compactos, por exemplo, mostra salto de R$ 40,2 mil, em 2015, para R$ 51,4 mil, neste ano. Em apenas três anos, portanto, o aumento foi de 28,2%.

O setor nacional de usados tem sido puxado também pelo forte reaquecimento de alguns mercados regionais, como Sul e Nordeste. As vendas de veículos no Rio Grande do Sul aumentaram 15,9% no primeiro semestre, de acordo com dados divulgados pelo Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos (Sincodiv/RS) com base nos balanços da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). No Rio Grande do Norte, Pernambuco e Alagoas, pelos cálculos de suas associações estaduais, a expansão também foi de mais de 15% neste ano.

Para Vinicius Ribeiro, presidente e proprietário da Carbens, cooperativa de bens automotores, adquirir um seminovo na faixa de preço dos R$ 30 mil pode gerar vantagens de custo/benefício superiores à maioria dos carros novos. Segundo ele, existem no mercado carros de longa durabilidade, principalmente entre os sedãs compactos.

“A grande vantagem é que esses veículos oferecem pouca manutenção e, por isso, conquistam a confiança do comprador”, disse. “A demanda por veículos de entrada cresceu de três anos para cá, especialmente pela expansão de transporte por aplicativo para celular, como Uber, Cabify e 99.”

Parte do crescimento de seminovos se explica pela popularização dos classificados digitais. Só no primeiro semestre deste ano, as vendas no item usados por meio do pregão eletrônico alcançaram R$ 126 milhões, segundo a plataforma AutoAvaliar. É mais do que o dobro, comparativamente, ao desempenho do ano passado, na casa dos R$ 56 milhões.

A pesquisa realizada na plataforma considerou as transações efetuadas em 2,7 mil concessionárias e 20 mil lojistas multimarcas. Segundo o CEO da AutoAvaliar, José Rinaldo Caporal, o modelo de vendas online tem potencial para crescer, porque é relativamente desconhecido no país.