Brasília -A revista inglesa The Economist, considerada a Bíblia do pensamento liberal no mundo, publicou artigo com pesadas críticas a Jair Bolsonaro, qualificando-o de uma "ameaça" ao Brasil. "Jair Bolsonaro, a mais recente ameaça na América Latina" é o título da reportagem, complementado assim: "Ele pode ser um presidente desastroso". A candidatura fascista no Brasil começa a ter repercussão negativa no exterior, na mesma medida em que o apoio à libertação de Lula é cada vez mais amplo.
Leia os principais trechos da reportagem, que começa referindo-se ao filme "Deus é Brasileiro", de 2003, dirigido por Cacá Diegues:
"DEUS é brasileiro", diz um ditado que se tornou o título de um filme popular. A beleza, a riqueza natural e a música do Brasil geralmente fazem com que o país pareça singularmente abençoado. Mas, hoje em dia, os brasileiros devem se perguntar se, como a divindade no filme, Deus saiu de férias. A economia é um desastre, as finanças públicas estão sob pressão e a política está completamente podre. À criminalidade aumenta nas ruas sem parar. Sete cidades brasileiras estão entre as 20 mais violentas do mundo.
As eleições nacionais no próximo mês dão ao Brasil a chance de começar de novo. No entanto, se, como parece muito possível, a vitória for de Jair Bolsonaro, um populista de direita, o risco é tudo se tornar pior. Sr. Bolsonaro, cujo nome do meio é Messias, promete a salvação; na verdade, ele é uma ameaça para o Brasil e para a América Latina.
Bolsonaro é o último de uma fila de populistas - de Donald Trump na América a Rodrigo Duterte nas Filipinas e a uma coalizão de esquerda e direita com Matteo Salvini na Itália. Na América Latina, Andrés Manuel López Obrador, um rebelde de esquerda, tomará posse no México em dezembro. O Sr. Bolsonaro seria uma adição particularmente desagradável ao clube. Se ele vencer, pode colocar em risco a própria sobrevivência da democracia no maior país da América Latina.
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Além de sua visões social contra o liberalismo tradicional, Bolsonaro tem uma admiração preocupante pelas ditaduras. Ele dedicou seu voto para destituir Dilma Rousseff ao comandante de uma unidade responsável por 500 casos de tortura e 40 assassinatos sob o regime militar, que governou o Brasil de 1964 a 1985. O companheiro de chapa de Bolsonaro é Hamilton Mourão, um general aposentado. No ano passado, enquanto estava de uniforme, afirmou que o Exército poderia intervir para resolver os problemas do Brasil. A resposta do Sr. Bolsonaro ao crime é, na verdade, matar mais criminosos - embora, em 2016, a polícia tenha matado mais de 4.000 pessoas.
A América Latina já experimentou no passado políticas autoritárias e economia ultraliberal. Augusto Pinochet, um governante brutal do Chile entre 1973 e 1990, foi orientou-se pela escola mais radicalmente ultraliberal, os “Chicago Boys”. Eles ajudaram a estabelecer o terreno para a prosperidade relativa de hoje no Chile, mas a um custo humano e social terrível.
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Bolsonaro pode não ser capaz de converter seu populismo em ditadura, ao estilo de Pinochet, mesmo que queira. Mas a democracia do Brasil ainda é jovem. Até mesmo um flerte com o autoritarismo é preocupante. Todos os presidentes brasileiros precisam de uma coalizão no Congresso para aprovar leis. Bolsonaro, entretanto, tem poucos amigos políticos. Para governar, ele poderia ser levado a degradar ainda mais a política, potencialmente pavimentando o caminho para alguém ainda pior.