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Após uma queda de 49% da produção e de 38% dos emplacamentos entre janeiro e maio de 2020, em relação ao mesmo período de 2019, a indústria automotiva brasileira ensaia uma recuperação. No mesmo período de 2021, ela já alcança 82% da produção anterior à crise sanitária em 2019, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Para analistas do setor, não há perspectivas concretas de retomada plena ainda em 2021, em meio à falta de insumos e às incertezas sobre a economia do país no segundo semestre. Ainda assim, eles pontuam legados positivos do último ano, como a aceleração da digitalização das vendas e o fortalecimento de modelos alternativos de negócio, a exemplo do aluguel de carros por assinatura diretamente com as montadoras.
“Temos a expectativa de um segundo semestre muito bom para a economia. Mas as vendas dependem da percepção do consumidor, que envolve a empregabilidade, em baixa no Brasil, e o nível salarial médio”, pontua o diretor da consultora KPMG para o setor automotivo, Ricardo Bacellar. Por ora, ao mesmo tempo em que o PIB do país cresceu 1,2% no primeiro trimestre, acima do esperado, a renda dos brasileiros encolheu 10% devido à inflação, de acordo com estudo do pesquisador Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV).
No campo da produção de veículos, a expectativa da Anfavea é de um crescimento de 25% em relação a 2020, com cerca de 2,5 milhões de unidades — volume menor que o de 2019, quando o setor produziu quase 3 milhões. Mas, por enquanto, a produção “patina”, na perspectiva da associação. Em maio deste ano, a produção de veículos foi apenas 1% maior que a de abril, diante da crise de abastecimento de semicondutores na indústria, essenciais para os componentes eletrônicos até dos carros mais populares. Nas palavras da associação, esse é um “teto técnico” que não tem prazo para terminar.
“Esse problema, que deve se alongar até os primeiros meses de 2022, é o responsável pelas paralisações temporárias de parte de nossas fábricas, algumas por períodos curtos, outras mais longos”, detalha o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, em comunicado à imprensa. A escassez afeta a indústria globalmente, em um cenário em que as perdas durante a pandemia também foram globais: na Argentina, assim como no Brasil, o registro de veículos caiu quase 30% em 2020, em relação ao ano anterior, segundo comparativo de dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) e da Associação de Concessionárias da República Argentina (Acara).
Ainda assim, a indústria não permaneceu estanque nos últimos meses, lembra o presidente da consultoria Bright Consulting, Paulo Cardamone. “Os lançamentos estão acontecendo e o portfólio das marcas têm mudado consistentemente para veículos de maior conteúdo. Quem está comprando carro novo hoje tem dinheiro, e a indústria está mudando para atender ao consumidor da geração Z, conectado, que quer mais tecnologia embarcada”, diz.
Em meio à pandemia, as principais marcas do mercado mantiveram lançamentos, como a nova Strada, da Fiat, e o Nivus, da Volkswagen. Mesmo com plantas de produção paradas, a GM também desenvolve uma nova linha de picapes no Brasil, parte de um investimento de R$10 bilhões, segundo a empresa. “Os carros um pouco mais off road, com cara de aventura, estão na mente do consumidor, que já não se vê no grande centro urbano”, comenta Bacellar.
Digitalização e aluguéis se fortalecem na pandemia
A digitalização do setor foi uma constante nas apostas de mercado durante a última década e, na perspectiva do diretor da KPMG para o setor automotivo, Ricardo Bacellar, foi acelerada pela pandemia. “A discussão já era pesada antes. O varejo, por exemplo, sobreviveu porque já vinha investindo fortemente em consumo digital, então o consumidor estava acostumado a comprar pela internet. Na ponta, a indústria automotiva também é varejo, o produto só é mais caro. Agora, a indústria está reagindo com velocidade”, analisa.
“Hoje, o consumidor pode comprar um carro por WhatsApp, pode agendar um test drive a partir de sua casa, pode programar a entrega do carro 0 km em casa. São comodidades que unem o melhor do mundo físico e do mundo virtual”, exemplifica o gerente de Brand Fiat para a América do Sul Hugo Domingues. A Volkswagen também foi procurada pela reportagem, mas disse não poder comentar o assunto a tempo da finalização da matéria. A GM preferiu não se pronunciar.
Outra tendência acentuada pela crise sanitária, para Bacellar, é o aluguel de carros por assinatura diretamente com as montadoras, serviço que já é ofertado por marcas como a Fiat e a Volkswagen. Com a demanda pelo transporte privado em alta, mas o aumento constante de preços dos veículos, ele seria uma alternativa de diversificação da indústria, na visão do analista.
“Não é de hoje que um carro é caro, em relação à renda média do brasileiro. Ele tem ficado cada vez mais caro e mantê-lo é penoso também. Mas podemos diluir a percepção de custo com o modelo por assinatura. Isso democratiza o acesso do brasileiro ao produto da indústria e, com a recuperação econômica, do emprego e da confiança, é um cenário extremamente auspicioso”, diz.
Venda de veículos usados aumenta na pandemia
Comprar um carro não estava nos planos do operador de circuitos de TV Rodrigo Ferreira, 39, mas ele decidiu adquirir um usado de 16 anos durante a pandemia para escapar do transporte público. “Ônibus, não dá. Agora, venho para o trabalho de carro e busco minha esposa no trabalho dela também, para evitar ao máximo o transporte público. Eu queria um carro novo, na verdade, mas estão muito caros”, diz.
Ele não foi o único a fazer essa escolha: entre janeiro e maio deste ano, a venda de veículos usados e seminovos no Brasil foi 4,3% maior do que no mesmo período de 2019, antes da pandemia. Foram vendidos cerca de 6,03 milhões de unidades, inclusive motos, enquanto, em 2019, foram 5,77 milhões. A alta chega após uma queda de 12% de vendas no acumulado de 2020 em relação ao ano anterior, devido às baixas dos primeiros meses da pandemia, segundo dados da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto).
“Vários fatores levaram ao aumento. Alguns modelos de carros 0km ficaram em falta pela paralisação das montadoras, por exemplo. Outro fator é que pessoas que haviam passado a se locomover com Uber hoje estão voltando a comprar carros mais usados para ter tranquilidade na pandemia”, explica o presidente da Fenauto, Ilídio dos Santos.
Os veículos com mais de 13 anos, como o de Rodrigo, correspondem a quase um terço das vendas de usados. Mas, lembra o presidente da consultora Bright Consulting, Paulo Cardamone, também há quem opte por usados mais novos para não perder os componentes tecnológicos. “Neste momento, um carro de entrada é muito caro, então, quem quer mais conteúdo está escolhendo um carro usado. Essa é uma entressafra até que o mercado volte ao normal. O mercado vai ter que se ajustar para saber que tipo de veículo 0km será vendido no Brasil”, completa.
Na perspectiva dele, o pós-pandemia será um momento de reavaliação de estratégia da indústria automotiva no Brasil, dividida entre carros de entrada mais simples para ampliar o público consumidor ou veículos cada vez mais completos. “Uma corrente que discuto muito no mercado é se o brasileiro tem interesse em um carro de entrada mais simples, abrindo mão da parte tecnológica para pagar mais barato”, concorda Ricardo Bacellar, da KPMG.
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Para analistas do setor, não há perspectivas concretas de retomada plena ainda em 2021, em meio à falta de insumos e às incertezas sobre a economia do país no segundo semestre. Ainda assim, eles pontuam legados positivos do último ano, como a aceleração da digitalização das vendas e o fortalecimento de modelos alternativos de negócio, a exemplo do aluguel de carros por assinatura diretamente com as montadoras.
“Temos a expectativa de um segundo semestre muito bom para a economia. Mas as vendas dependem da percepção do consumidor, que envolve a empregabilidade, em baixa no Brasil, e o nível salarial médio”, pontua o diretor da consultora KPMG para o setor automotivo, Ricardo Bacellar. Por ora, ao mesmo tempo em que o PIB do país cresceu 1,2% no primeiro trimestre, acima do esperado, a renda dos brasileiros encolheu 10% devido à inflação, de acordo com estudo do pesquisador Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV).
No campo da produção de veículos, a expectativa da Anfavea é de um crescimento de 25% em relação a 2020, com cerca de 2,5 milhões de unidades — volume menor que o de 2019, quando o setor produziu quase 3 milhões. Mas, por enquanto, a produção “patina”, na perspectiva da associação. Em maio deste ano, a produção de veículos foi apenas 1% maior que a de abril, diante da crise de abastecimento de semicondutores na indústria, essenciais para os componentes eletrônicos até dos carros mais populares. Nas palavras da associação, esse é um “teto técnico” que não tem prazo para terminar.
“Esse problema, que deve se alongar até os primeiros meses de 2022, é o responsável pelas paralisações temporárias de parte de nossas fábricas, algumas por períodos curtos, outras mais longos”, detalha o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, em comunicado à imprensa. A escassez afeta a indústria globalmente, em um cenário em que as perdas durante a pandemia também foram globais: na Argentina, assim como no Brasil, o registro de veículos caiu quase 30% em 2020, em relação ao ano anterior, segundo comparativo de dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) e da Associação de Concessionárias da República Argentina (Acara).
Ainda assim, a indústria não permaneceu estanque nos últimos meses, lembra o presidente da consultoria Bright Consulting, Paulo Cardamone. “Os lançamentos estão acontecendo e o portfólio das marcas têm mudado consistentemente para veículos de maior conteúdo. Quem está comprando carro novo hoje tem dinheiro, e a indústria está mudando para atender ao consumidor da geração Z, conectado, que quer mais tecnologia embarcada”, diz.
Em meio à pandemia, as principais marcas do mercado mantiveram lançamentos, como a nova Strada, da Fiat, e o Nivus, da Volkswagen. Mesmo com plantas de produção paradas, a GM também desenvolve uma nova linha de picapes no Brasil, parte de um investimento de R$10 bilhões, segundo a empresa. “Os carros um pouco mais off road, com cara de aventura, estão na mente do consumidor, que já não se vê no grande centro urbano”, comenta Bacellar.
Digitalização e aluguéis se fortalecem na pandemia
A digitalização do setor foi uma constante nas apostas de mercado durante a última década e, na perspectiva do diretor da KPMG para o setor automotivo, Ricardo Bacellar, foi acelerada pela pandemia. “A discussão já era pesada antes. O varejo, por exemplo, sobreviveu porque já vinha investindo fortemente em consumo digital, então o consumidor estava acostumado a comprar pela internet. Na ponta, a indústria automotiva também é varejo, o produto só é mais caro. Agora, a indústria está reagindo com velocidade”, analisa.
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Outra tendência acentuada pela crise sanitária, para Bacellar, é o aluguel de carros por assinatura diretamente com as montadoras, serviço que já é ofertado por marcas como a Fiat e a Volkswagen. Com a demanda pelo transporte privado em alta, mas o aumento constante de preços dos veículos, ele seria uma alternativa de diversificação da indústria, na visão do analista.
“Não é de hoje que um carro é caro, em relação à renda média do brasileiro. Ele tem ficado cada vez mais caro e mantê-lo é penoso também. Mas podemos diluir a percepção de custo com o modelo por assinatura. Isso democratiza o acesso do brasileiro ao produto da indústria e, com a recuperação econômica, do emprego e da confiança, é um cenário extremamente auspicioso”, diz.
Venda de veículos usados aumenta na pandemia
Comprar um carro não estava nos planos do operador de circuitos de TV Rodrigo Ferreira, 39, mas ele decidiu adquirir um usado de 16 anos durante a pandemia para escapar do transporte público. “Ônibus, não dá. Agora, venho para o trabalho de carro e busco minha esposa no trabalho dela também, para evitar ao máximo o transporte público. Eu queria um carro novo, na verdade, mas estão muito caros”, diz.
Ele não foi o único a fazer essa escolha: entre janeiro e maio deste ano, a venda de veículos usados e seminovos no Brasil foi 4,3% maior do que no mesmo período de 2019, antes da pandemia. Foram vendidos cerca de 6,03 milhões de unidades, inclusive motos, enquanto, em 2019, foram 5,77 milhões. A alta chega após uma queda de 12% de vendas no acumulado de 2020 em relação ao ano anterior, devido às baixas dos primeiros meses da pandemia, segundo dados da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto).
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