Os resultados da economia brasileira no primeiro trimestre de 2023 surpreenderam analistas ouvidos pela Folha de S. Paulo. No entanto, a avaliação é de que o restante do ano poderá ser prejudicado pela alta taxa de juros, que causam restrições de crédito, e pelo desaquecimento da economia global. Atualmente, a taxa básica de juros do Brasil está em 13,75% ao ano. A Selic é estabelecida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O patamar dos juros no país tem provocado críticas tanto do governo Lula (PT) quanto de setores da indústria, que o enxergam como um empecilho para a retomada do crescimento brasileiro.

Nesta quarta-feira (17), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que as vendas do varejo subiram 0,8% em março ante fevereiro - a expectativa de especialistas consultados pela agência Reuters era de uma retração de 0,8%. O varejo fechou o primeiro trimestre do ano com alta de 2% frente aos três meses imediatamente anteriores e o setor está 4,3% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020.

Diante dos resultados, o Santander reajustou de 1% para 1,1% a projeção do PIB para o trimestre encerrado em março. Para o acumulado do ano, o banco prevê alta de 1%, em um cenário prejudicado pela economia global e pela alta dos juros no Brasil.

O Itaú Unibanco também reconheceu que os resultados positivos "mostraram certa resiliência da atividade econômica no período", mas também advertiu para os impactos dos juros altos: "esperamos alguma desaceleração nas vendas no varejo nos próximos meses em meio aos efeitos defasados da política monetária". O banco espera um crescimento de 1,4% do PIB do primeiro trimestre.

Economista do banco Original, Igor Cadilhac exalta a participação do setor de serviços, que cresceu 0,9% ante fevereiro, mas compartilha do pessimismo para os próximos meses devido à política do Banco Central: "o cenário é bem desafiador, com juros altos, endividamento das famílias".