Regulamentação imposta pela Prefeitura de Nova York, que proíbe a inclusão de novos motoristas durante os próximos 12 meses, poderá ser referência para outras grandes cidades

fonte:em.com.br

São Paulo – “O Uber é como festa de amigos de faculdade, todo mundo gosta, desde que não esteja fora da lista de convidados”. A frase do prefeito de Nova York, Bill de Blasio, define com precisão as recentes turbulências provocadas pelo aplicativo de transporte de passageiros.

De um lado, motoristas e usuários defendem o serviço com unhas e dentes. De outro, taxistas e órgãos reguladores torcem pelo seu fim.

É fácil compreender, então, por que Nova York se tornou a primeira metrópole americana a restringir o número de carros a serviço do Uber e do Lyft, entre outros aplicativos.

A alegação para a medida é que, além de reduzir o número de carros em circulação em Manhattan, os motoristas poderão melhorar suas remunerações – com a definição de um piso, inclusive.

“A regulação é necessária porque a concorrência tem inviabilizado a atividade dos táxis e, ao mesmo tempo, reduzido a centavos o lucro por corrida de aplicativos”, argumentou Jon Orcutt, ex-diretor de Políticas Públicas do Departamento de Transportes de Nova York (DOT).

“Não é preciso proibir, mas é fundamental regular.” Em resposta, o Uber disse ser contrário às medidas anunciadas em Nova York por ferir a livre concorrência e burocratizar um serviço que nasceu com a proposta de desburocratizar o transporte.

Na prática, mais nenhum veículo poderá ser incluído nos aplicativos nova-iorquinos pelos próximos 12 meses, exceto táxis.

Só a partir do segundo semestre de 2019 é que novos carros poderão ser cadastrados. Atualmente, a Big Apple tem 130 mil motoristas ativos, sendo que 80 mil fazem corridas solicitadas por meio aplicativo, 13,5 mil dirigem os táxis amarelos e outros 32 mil tem carros pretos, voltados principalmente a transporte executivo.

“As restrições impostas aos aplicativos em Nova York, o maior de todos os mercados da Uber, terão reflexos em várias cidades, já que o que acontece lá serve de parâmetro para legislação em todo o mundo”, diz Olímpio Alvarez, economista da Escola Politécnica da USP e especialista em transporte.

Esses reflexos, de fato, podem chegar às grandes cidades brasileiras e colocar o Uber e seus concorrentes sob ataque. São Paulo é a segunda maior praça do Uber no mundo. Apesar da recente regulamentação aprovada pela câmara de vereadores e endossada pela prefeitura, há uma crescente pressão por parte dos representantes dos taxistas para que a legislação municipal seja ainda mais rigorosa com os aplicativos.

“Se todo mundo for chef de cozinha, não haverá mais restaurante nas ruas, assim como se todo mundo puder transportar passageiros, haverá um colapso do setor”, disse o presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo (Sindtaxi), Natalício Bezerra.

A prefeitura da maior cidade brasileira, a julgar pelas iniciativas adotadas nos últimos meses, está sabendo disso. Tanto é que decidiu lançar em maio seu próprio app de transporte de passageiros. A plataforma, chamada de SPTaxi, foi elaborada para se tornar uma opção mais econômica tanto para motoristas quanto para passageiros, e fazer frente à “uberização” da atividade.

“O aplicativo é bom e um passo importante nesse ambiente de concorrência desenfreada”, afirma Antônio Matias, presidente do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores nas Empresas de Táxi de São Paulo (Simtetaxi). “O que falta é mais divulgação, além de parcerias com grandes empresas.”

Capital

A ofensiva contra os aplicativos de transporte poderá, em última instância, prejudicar os planos de abertura de capital do Uber. O CEO da companhia, Dara Khosrowshahi, planeja lançar ações na bolsa no segundo semestre de 2019.

O executivo, durante recente encontro com especialistas em tecnologia no estado americano do Colorado, garantiu que a empresa estará pronta para o IPO (oferta pública inicial de ações na tradução para o português) até meados do ano que vem, apesar de registrar baixa rentabilidade na maioria de seus mercados.

Desde sua fundação, em 2009, a startup de São Francisco perdeu mais de US$ 10,7 bilhões. No primeiro trimestre deste ano, o prejuízo contábil, que exclui juros, impostos e outras despesas, foi de US$ 312 milhões globalmente.

“A grande dúvida é se esse modelo de negócio, sem os necessários ajustes concorrenciais, se mostrará sustentável e rentável por muito tempo”, diz Lawrence Hanley, presidente do sindicato americano Amalgamated Transit Union.

Em crise

» US$ 10,7 bilhões
É a perda acumulada pelo Uber desde a fundação da empresa em 2009

» US$ 4,5 bilhões
Foi a perda do Uber somente em 2017

» US$ 312 milhões
Soma das perdas contábeis no primeiro trimestre de 2018