Dois meses depois do anúncio da troca no comando na Petrobras, o general da reserva Joaquim Silva e Luna toma posse hoje, em cerimônia, ante a expectativa do mercado da condução da estatal sob a nova gestão. O general da reserva e os novos diretores, escolhidos entre os quadros técnicos da companhia, foram eleitos pelo conselho de administração da estatal, em reunião, na sexta-feira.

Ao dar as primeiras declarações ao conselho de administração da Petrobras, Silva e Luna adotou tom conciliador e aberto ao diálogo, segundo fonte. Discreto, o general não chegou a dizer que manterá as regras atuais de precificação, mas também não sinalizou rupturas. A expectativa é que o militar siga padrão semelhante hoje em seu primeiro discurso oficial ao mercado.

O tom de pacificação também marcou a escolha do novo time de diretores, com a aposta em funcionários de carreira da estatal. Silva e Luna optou por respeitar o plano de sucessão da companhia, com a valorização dos profissionais com experiência nas gerências-executivas - posto hierárquico imediatamente abaixo das diretorias.

Indicado após manifestações de insatisfação do presidente Jair Bolsonaro com a condução da política de preços de combustíveis da estatal sob o comando de Roberto Castello Branco, Silva e Luna vai precisar dar resposta rápida ao mercado sobre a continuação do alinhamento dos preços às referências internacionais.

Analistas ouvidos pelo Valor elogiaram os novos diretores e afirmaram que os nomes “superaram as expectativas”. A Ativa Investimentos, no entanto, alerta que a escolha de profissionais que fizeram carreira na estatal não significa a preservação da política de combustíveis. “O governo pode ter manifestado uma inclinação à continuidade do nível de investimentos na área de exploração e produção, deixando espaço aberto para que a mudança significativa possa ser, de fato, verificada através de uma eventual mudança da política de paridade de preços”, diz o analista da Ativa, Ilan Arbetman.

O presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, aponta que Silva e Luna tenta indicar uma continuidade da gestão anterior, mas também acredita que o efetivo cumprimento do alinhamento aos preços internacionais dos combustíveis depende de outros fatores, como o comportamento do preço do barril de petróleo e do câmbio.

Pires diz que o clima no mercado hoje é diferente de quando Castello Branco foi indicado para a presidência da Petrobras pelo ministro da economia Paulo Guedes, no fim de 2018, e alerta para o enfraquecimento da agenda liberal no governo. O responsável pela indicação de Silva e Luna para a presidência da Petrobras, diz Pires, foi o ministro de Minas e Energia, o almirante Bento Albuquerque, que também havia indicado o presidente do conselho de administração da companhia, reconduzido ao cargo, o almirante da reserva Eduardo Bacellar. “É o fim da era Guedes na Petrobras”, diz Pires.

Para a diretoria, foram eleitos quatro membros dos quadros internos: Cláudio Mastella (logística e comercialização), Fernando Borges (exploração e produção), João Henrique Rittershaussen (desenvolvimento da produção) e Rodrigo Araújo (financeiro). O quinto “prata da casa” é Rodrigo Costa Lima e Silva (refino e gás), que assumiu em janeiro e foi reconduzido.

Eles se juntarão, na diretoria, aos nomes que vieram de fora da estatal durante a gestão de Castello Branco: Roberto Ardenghy (relacionamento institucional e sustentabilidade) e Nicolás Simone (transformação digital e inovação), que foram reconduzidos. Além deles, comporá a diretoria, a partir de maio, Salvador Dahan (governança e conformidade), egresso da Nissan. Pela primeira vez em mais de uma década, a Petrobras não terá nenhuma presença feminina na alta gestão.

O temor no mercado é que a estatal abandone a paridade de importação (PPI) para compensar pressões inflacionárias. Analistas têm apontado a necessidade de a nova gestão dar respostas rápidas também sobre a lógica da alocação de capital e o programa de venda de ativos. A Petrobras tem compromissos com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para concluir desinvestimentos de ativos de gás natural e finalizar a alienação das refinarias localizadas fora do eixo Rio-São Paulo (oito no total) até dezembro.

Antes disso, os primeiros desafios do novo presidente começam em maio. Com o fim da isenção do PIS-Cofins sobre o diesel adotada em março e abril, estimativas apontam que o combustível pode subir R$ 0,30 por litro. Uma possível extensão do corte exigiria compensações na arrecadação, de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Outro teste de fogo será o reajuste no preço do gás praticado às distribuidoras. O aumento de 39% anunciado em abril foi classificado como “inadmissível” por Bolsonaro. Além disso, antes mesmo da transição no comando, a companhia previa debater em maio a continuidade ou não do modelo remoto de trabalho, com base no comportamento da pandemia. O trabalho à distância na área administrativa da companhia também foi alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro.

 

Fonte: Valor Econômico