Dados do IBGE divulgados nesta quinta-feira (21) apontam que o índice subiu 1,11% entre 16 de maio a 13 de junho
Os preços de alimentos e combustíveis dispararam em meio à paralisação de caminhoneiros e pressionaram o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15) de junho, indicador que serve como uma prévia da inflação oficial do país.
Dados do IBGE divulgados nesta quinta-feira (21) apontam que o índice subiu 1,11% entre 16 de maio a 13 de junho, na maior variação para o mês desde 1995, quando registrou 2,35%.
No ano, acumula alta de 2,35%, e em 12 meses, de 3,68%.
O movimento dos caminhoneiros, que reivindicavam, entre outras coisas, diminuição no preço do diesel, paralisou o país entre os dias 21 e 31 de maio, com os reflexos de desabastecimento se estendendo por junho.
Os grupos alimentação e bebidas (1,57%), habitação (1,74%) e transportes (1,95%) foram as principais influências para puxar o indicador para cima.
Entre os alimentos que tiveram alta, a batata inglesa, cebola e tomate foram as maiores altas. A batata foi a que mais subiu no período, tendo registrado alta de 45,12%. A cebola teve alta de 19,95% e o tomate, 14,15%.
Os alimentos tiveram altas porque muitos produtos ficaram retidos nos bloqueios feitos por caminhoneiros nas principais estradas dos país. Centros de distribuição de alimentos e entrepostos passaram dias sem receber carregamentos dos principais produtos, o que fez os preços dispararem diante da falta. Quando a situação nas estradas se normalizou, houve uma corrida dos consumidores aos mercados para abastecer novamente suas despensas.
Os tubérculos, raízes e legumes foram o grupo de maior variação na prévia da inflação de junho, de 21,83% no período.
As frutas também dispararam de preço, casos do abacate, com alta de 14,93% no período, e o limão, com 20,57% de alta. O maracujá encareceu em 28,29%.
No segmento de habitação, os serviços de mudança tiveram alta de 2,84% devido ao desabastecimento de combustíveis relacionado à paralisação de caminhoneiros. A falta de diesel nos postos reduziu a oferta de fretes para mudanças.
O segmento de combustíveis e energia voltados para o consumo nas residências teve alta de 4,62%. O gás de botijão, por exemplo, subiu 2,60% no período. Diversas cidades brasileiras, como o Recife, enfrentaram dificuldade para normalizar o abastecimento de botijões nas distribuidoras.
A distribuição foi afetada primeiro pela falta de transporte e, em seguida, porque a procura foi grande quando o produto voltou a ficar disponível para a venda.
A energia elétrica residencial teve alta de 5,44% no período devido à mudança na bandeira tarifária da conta de luz no início de junho.
As medidas tomadas pelo governo federal para garantir redução do preço dos combustíveis na bomba dos postos de gasolina não tiveram impacto imediato na prévia da inflação. Os combustíveis para veículos tiveram alta de 5,94% no período.
O diesel, cujo preço foi o estopim para o movimento de paralisação, subiu 3,06% no IPCA-15 de junho. A gasolina sozinha teve alta de 6,98%. O etanol (2,36%) e o GNV (1,44%) também encareceram.
O governo tem utilizado a ANP (Associação Nacional de Petróleo) para fiscalizar postos e garantir que o desconto dado nas refinarias chegue às bombas para o consumidor final. O desconto dado nas refinarias não tem sido repassado na mesma proporção nos postos.
Como o IPCA verifica apenas os preços cobrados ao consumidor final, a mudança ainda não foi suficiente para gerar impacto significativo no índice.
Para o cálculo do IPCA-15, os preços foram coletados entre 16 de maio a 13 de junho de 2018 e comparados com aqueles vigentes de 14 de abril a 15 de maio de 2018. O indicador refere-se às famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos e abrange as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além de Brasília e Goiânia.
DESABASTECIMENTO
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial do país, já havia dobrado em maio -ficou em 0,4%-, impactado pela paralisação, sentida sobretudo no preço dos alimentos. Mas o IBGE informou quando divulgou o índice que, como o movimento ocorreu na última semana do mês, os reflexos devem ser sentidos também no IPCA de junho.
Poucos dias após o fim da paralisação de caminhoneiros, varejistas de 17 das 27 unidades da federação consideravam que os estoques no início de junho estavam abaixo do normal, apontou levantamento da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
A dificuldade de reposição deve se refletir em valores ainda altos para índices de preços em junho. "Embora a situação caminhe para a normalidade, o grande ponto é ver como o varejo vai reagir em termos de preços. que subiram muito durante a crise", disse Fabio Bentes, economista da CNC responsável pelo estudo.
Segundo a pesquisa, 15,2% dos varejistas brasileiros viam os estoques de seus estabelecimentos como aquém do adequado -nos três meses que antecederam a paralisação, esse percentual foi de, em média, 13,8%.
De acordo com o levantamento, o equilíbrio entre estoque e ritmo de vendas já foi praticamente normalizado para bens de consumo não duráveis, como combustíveis e alimentos, exatamente os itens mais afetados de imediato pelo bloqueio das estradas. Cálculos da confederação apontam que entre 21 de maio e 4 de junho, só os segmentos de supermercados e combustíveis perderam no varejo R$ 2,8 bilhões e R$ 2,4 bilhões, respectivamente.
Desses comerciantes, 11,8% afirmaram que o estoque estava baixo, nível semelhante à média trimestral anterior à paralisação, de 11,2%. Em algumas capitais, no entanto, a percepção continua acima da média, como em Natal (RN), com 16,4%, Belém (PA) e Cuiabá (MT), ambas com 12,3%.
Entre os varejistas especializados em bens de consumo duráveis, no entanto, a sensação de desabastecimento foi mais persistente, compartilhada por 17,2% dos entrevistados, contra 15,4% antes da crise. Em Florianópolis (SC), chegou a 28,2%, e em Curitiba (PR), a 23,5%.
"Podemos dizer que no Brasil como um todo a situação praticamente se normalizou para o varejo de bens não duráveis, mas continua mais séria para bens duráveis", diz Bentes.
Segundo ele, o estoque de bens duráveis demora para se regularizar em regiões mais afastadas de indústrias e portos.
"Chama a atenção a situação de São Paulo, que responde por quase 30% do varejo brasileiro e onde ainda há a percepção leve de estoque em baixa. O Rio é o contraponto, porque os varejistas já estavam bem estocados com as vendas mais fracas no estado", afirma.