Com a franca escalada dos preços da gasolina nos postos, que vem apertando os orçamentos das famílias, seu substituto imediato, o etanol hidratado, também tem tido uma forte alta no mercado doméstico. Na semana passada, o biocombustível subiu em todos os Estados — sem exceção.

Os dados são do levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizado entre 21 e 27 de fevereiro. No período, o etanol chegou a subir 12% nos postos de Minas Gerais em apenas uma semana. Com valor de R$ 3,736 o litro nos postos mineiros, o biocombustível ficou tecnicamente dentro da correlação de 70% com o preço da gasolina. Abaixo desse patamar, o renovável é mais vantajoso para a média dos motores da frota flex brasileira e costuma estimular a demanda.

No Estado de São Paulo, que responde por cerca de metade do consumo de combustíveis do país, o preço do etanol subiu 8,5% em apenas uma semana, encerrando fevereiro com em média a R$ 3,496 o litro. Em relação à gasolina, o preço ficou um pouco acima da paridade, em 71,9%.

O etanol só preservou sua competitividade técnica ante a gasolina em Goiás e Mato Grosso, onde, mesmo com altas de 4,63% e 1,1%, respectivamente, o biocombustível ficou abaixo de 70% do valor da gasolina na semana.

Apesar da perda de competitividade técnica em outros mercados ao longo da semana, dados preliminares que circulam no mercado indicam que, em fevereiro, até a semana do Carnaval, os motoristas reduziram o consumo de gasolina e migraram para o etanol hidratado.

Na avaliação de Martino Ono, diretor da SCA Trading, a migração pode ocorrer não só quanto o biocombustível está competitivo, mas também quando a diferença nominal entre o litro da gasolina e do etanol aumenta muito, como foi o caso da semana passada.

Conforme os dados da ANP, o litro da gasolina ficou mais de R$ 1 mais caro do que o do etanol em 21 Estados e no Distrito Federal, o que raramente acontece no mercado.

“Quando existe um produto caro em qualquer mercado, o consumidor corre para comprar o mais barato como alternativa”, disse. A diferença de mais de R$ 1 foi observada mesmo em Estados com baixo consumo de etanol, como Acre e Sergipe.

A migração do consumo para o etanol não costuma ser esperada nessa época do ano porque, com a entressafra de cana, as usinas não conseguem abastecer o mercado no mesmo ritmo dos meses do período de moagem da cana, o que acaba sustentando os preços do biocombustível acima da paridade técnica de 70%.

Já para este mês, o cenário para o consumo de combustíveis está a cada dia mais nebuloso. Muitos Estados e cidades estão implementado medidas mais restritivas de circulação diante da disparada de casos de coronavírus e do colapso de diversas unidades de saúde, o que pode afetar a circulação de automóveis. Segundo o diretor da SCA, desde o Carnaval as distribuidoras vêm garantindo etanol com operações de hedge para abastecer o mercado neste mês.

Além da situação da demanda, a oferta de etanol também deve começar a crescer, conforme as usinas forem iniciando a moagem da cana da nova safra. O ritmo, porém, ainda é indefinido.

Segundo Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União das Indústrias de Canade-Açúcar (Unica), “já tem um bom número de empresas iniciando a moagem da safra, mas não como ano passado”.

Há oferta adicional de etanol oriunda do processamento de milho, que tem chegado a 220 milhões de litros por mês (hidratado e anidro), além de importações de 50 milhões de litros programas para entrar no país neste mês, ressalta Padua. “Vamos ver se prevalesce o aumento da oferta ou a continuidade da demanda”, avaliou.

Com a última elevação da gasolina A (sem mistura de etanol anidro) pela Petrobras em suas refinarias anunciada na segunda-feira, Ono, da SCA, estima que o reflexo total nos postos resultará em uma gasolina de mais de R$ 5,30 o litro nos postos, o que pode abrir espaço para o litro do etanol subir a R$ 4.

 

Fonte: Valor Econômico