A comemoração durou pouco. Depois de celebrar a valorização do real frente ao dólar nos últimos meses, levando a cotação da moeda americana à casa de R$ 3,75, a nova disparada do câmbio voltou a acender o sinal de alerta em vários setores da economia, especialmente no turismo e importadores. Nesta semana, quem procurou trocar dinheiro nas casas de câmbio chegou a R$ 4,45 pelo dólar turismo e até R$ 5,00 pelo euro. “O mercado do turismo, que estima uma alta de 12% a 15% neste ano, já começa a rever suas projeções de crescimento diante de oscilações tão fortes do dólar neste ano”, afirmou o consultor e economista pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcos Teixeira. Em seus cálculos, a permanência do dólar acima de R$ 4 vai prejudicar o desempenho do setor no fim do ano e nas férias escolares, em janeiro, períodos de alta temporada para a indústria do turismo.

O primeiro segmento a sofrer com a oscilação do dólar é o de agências de viagem. O diretor-executivo da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Gervásio Tanabe, afirma que o sobe e desce do dólar gera turbulências não só nas vendas de pacotes para destinos internacionais, como a rentabilidade no ambiente doméstico. “Infelizmente, este cenário atrapalha, e força as empresas, como as companhias aéreas, a lançar promoções e baixar o valor das passagens”, disse o executivo. “Por enquanto, temos percebido que os aviões, tanto para o exterior quanto para destinos nacionais, têm saído lotados, mas isso reflete quem programou a viagem antecipadamente”.


A afirmação do presidente da Abav está refletida nos números do setor. As despesas de brasileiros em viagens ao exterior aumentaram 2,44% em julho em relação ao mesmo mês do ano passado, alcançando US$ 1,524 bilhão, de acordo com o Banco Central. No acumulado do primeiro semestre, no entanto, os gastos chegaram a US$ 8,807 bilhões, queda de 8,01% na comparação com o mesmo período de 2018. Então o dólar caro é bom para estimular a vinda de gringos? Não. As receitas de estrangeiros em roteiros no Brasil somaram US$ 3,076 bilhões em seis meses, uma queda de 5,07% na mesma base de comparação. Assim, a conta de viagens, formada pelas despesas e receitas, fechou o primeiro semestre, o déficit atingiu US$ 5,730 bilhões. “A crise política e a instabilidade econômica têm gerado problemas para o turismo, já que a imagem do país lá fora está ruim”, acrescenta Marcos Teixeira. “Muitos turistas da Europa e dos Estados Unidos estão escolhendo outros países da América Latina”.


Para o diretor-geral da Decolar, Alexandre Moshe, a montanha-russa da moeda americana tem estimulado o brasileiro a planejar o roteiro de férias com mais antecedência. “É fato que um dólar mais baixo incentiva a busca por destinos onde a moeda é utilizada. Mas é possível que nesses momentos os destinos na América do Sul e Europa registrem crescimento, junto a destinos nacionais”, afirma Moshe. “Foi o caso das férias de julho, que mesmo tendo um dólar oscilando nos meses anteriores teve Orlando como principal destino, porém, com destinos como Santiago do Chile e Bariloche registrando crescimento”.


De acordo com o executivo da Decolar, as negociações com hotéis e companhias aéreas vão, nos próximos meses, amortecer a variação do dólar, garantindo boas alternativas para quem quer viajar mesmo com o câmbio desfavorável. “Temos em nosso portfólio mais de 520 mil hotéis no Brasil e no mundo, além de 300 companhias aéreas. Isso nos permite lançar promoções e ofertas atrativas para o turista brasileiro e oferecer aos hoteleiros e as companhias aéreas garantia de ocupação”, disse Moshe, que afirma que no segundo trimestre deste ano a Decolar apresentou um crescimento de 15% em reservas em relação ao mesmo período de 2018, com faturamento de US$ 114,1 milhões, aumento de 5% em relação ao mesmo trimestre de 2018.