Com a sua narrativa ultraneoliberal perdendo força e em divergências políticas com Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, vê dois membros do primeiro escalão do governo ganharem mais poder. São dois generais com gabinete no Palácio do Planalto: o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e Walter Souza Braga Netto, que comanda a Casa Civil da Presidência.

Ramos ficou responsável pela articulação política com o Congresso e Netto pela interlocução do Palácio com os ministros e dos ministérios entre si. Em um contexto de economia parada e recessão prevista para 2020, Bolsonaro está se voltando cada vez mais para os conselhos dos dois militares, de acordo com informações publicadas pela coluna de Tales Faria, no portal Uol. 

Em conflito com Guedes, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, tem recebido o apoio dos generais que são os ministros mais fortes no governo atualmente.

Nesta quarta-feira (26), Bolsonaro disse que rejeitou a proposta apresentada pelo Ministério da Economia para criação do programa Renda Brasil e alegou estar insatisfeito com os cortes de programas como o abono salarial para financiar o projeto. Também disse que o texto não será enviado ao Congresso.

Para este programa, a equipe econômica do governo sugeriu um pagamento que gira em torno de R$ 250. Bolsonaro estaria querendo algo próximo dos R$ 300, para deixar um valor mais distante dos R$ 190 pagos, em média, por família no programa Bolsa Família, uma das principais marcas dos governos do PT. 

Guedes, no entanto, pretende cortar dinheiro de outros setores para alavancar o Renda Brasil, uma medida difícil de ser bem aceita devido à estagnação econômica, à pandemia do coronavírus e também por conta dos malefícios já causados pela PEC do Teto dos Gastos, que congelou investimentos públicos por 20 anos - a Proposta de Emenda à Constituição foi aprovada no governo Michel Temer e apoiada por Bolsonaro.

O rombo nas contas do governo deve chegar a R$ 787,4 bilhões em 2020. Estimativas oficiais também apontaram quase 13 milhões de desempregados no País e recessão de 6% prevista para este ano. 

O fato é que o remanejamento de gastos ainda é um assunto sem definição na gestão atual. Por enquanto, o ultraneoliberalismo, baseado na entrega de setores estratégicos para estrangeiros e corte de direitos e investimentos não deu resultado.