Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, o diretor Técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, analisa o atual cenário sucroalcooleiro do País:

Os recentes recordes do setor de etanol já eram esperados?

O etanol superou a nossa expectativa, tanto na produção quanto nas vendas e no consumo do Centro-Sul do Brasil. Chegamos a 30 bilhões de litros. O hidratado subiu impressionantes 44% se comparado a igual período no ano anterior. Então, o etanol está muito competitivo na maioria dos estados brasileiros.

Pode-se esperar um novo recorde em 2019?

É possível que a moagem de cana fique no mesmo nível da safra anterior. O nível produtivo depende muito de se renovar o canavial agora um pouco abaixo da média histórica. O clima é um dos fatores que mais interferem. Penso que a próxima safra deve equilibrar mais o mix de açúcar e etanol.

Então, a próxima safra deve ser mais voltada à exportação?

Sim. Os preços do açúcar no mercado internacional despencaram quase 40% porque havia excesso de oferta. A culpa é dos subsídios da Índia, o segundo maior produtor mundial, e do Paquistão, outro importante produtor. Além disso, o Brasil sentiu a queda nas exportações de açúcar por causa da salvaguarda concedida pela China, que segue para o terceiro ano. Os asiáticos eram o principal destino do nosso açúcar, mas os números recentes apontam para um enorme recuo. É um dos itens desiguais que nos desafiam.

O que o setor espera do novo governo?

Espero dialogar e debater. Queremos visitar o Planalto para levar questões que nos incomodam. Uma das delas é criar mecanismos capazes de buscar equilíbrio no mercado nacional e internacional. Nossos maiores problemas estão lá fora. Quanto às políticas públicas, focalizamos a regulamentação do RenovaBio. É a Lei da Política Nacional dos Biocombustíveis. O programa pretende lançar um sistema de crédito de carbono. O produtor de biocombustível, não necessariamente do etanol, emite os títulos (os CBios) e os comercializa em um mercado financeiro atrelado às distribuidoras. Haverá metas para reduzir emissões de CO2. Consequentemente, os produtores poderão ampliar o faturamento e obter melhores condições de retomar os investimentos e crescer.

Há dificuldades a superar? Algo que preocupe?

Desde 2008, 80 usinas fecharam e umas 70 estão em recuperação judicial. Só as mais fortes conseguem empréstimos. É indispensável que haja estímulos, especialmente para que a gente amplie os espaços no cenário internacional. Agora estamos em desvantagem.

O governo Michel Temer criou o reajuste automático no preço da gasolina. Qual é o impacto disso no etanol?

A política de reajuste de preços da gasolina pela Petrobras é encarada positivamente. As regras de preços estão muito mais claras e o setor consegue se planejar adequadamente. Vamos nos rastros das mudanças e procuramos nos beneficiar das alterações oficializadas. Não há do que reclamar. Estamos confiantes para o futuro.

O crescimento dos carros elétricos ameaça o etanol?

O avanço dos carros elétricos no Brasil é um ponto muito importante. A entidade não é contra e defende que o etanol componha essa transformação, com o uso de motores flex (etanol e eletricidade). Alguns estudos mostram que a emissão de CO2 de um híbrido movido a biocombustível seria menor que a de um veículo 100% elétrico. Acredito que os carros elétricos e a etanol devem caminhar juntos. Não seríamos prejudicados.