Rodrigo Gomes (RBA) - Há alguns anos, toda época de carnaval é a mesma coisa: memes, artigos e vídeos criticando a aplicação de dinheiro público na realização de atividades relacionadas à festa de Momo. E dizendo que esse dinheiro devia ser investido em saúde ou educação. Os resultados econômicos do carnaval, no entanto, desmontam o senso comum alimentado por essa ideia. Neste ano, o período de festas carnavalescas movimentou cerca de R$ 9 bilhões no país. Esse dinheiro foi gasto pelos foliões em alimentação, hospedagem, viagem e transporte. O valor é R$ 2,3 bilhões superior ao estimado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Além dos valores gastos, o carnaval também é um período de criação de empregos. A CNC estimou que, para atender ao aumento sazonal de demanda, seriam contratados 23,6 mil trabalhadores temporários entre janeiro e fevereiro de 2019, alta de 23,4% em relação ao carnaval de 2018 (19,1 mil) e o maior contingente de temporários desde 2015 (21,2 mil). Além destes, muitas pessoas vão vender bebidas e lanches nas ruas, produzir adereços e roupas, entre outros trabalhos informais realizados nessa época.
Mas o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), amplamente criticado em blocos de rua e em desfiles de escolas de samba, chegou a postar um vídeo obsceno no Twitter, filmado em um bloco de rua de São Paulo, generalizando e acusando que a cena ocorria no carnaval em todo o país, buscando desmoralizar e criminalizar a festa. Fantasias de laranjas e do cheque R$ 24 mil recebido pela primeira-dama, Michele Bolsonaro, do ex-assessor Fabrício Queiroz foram comuns.
Apenas em São Paulo, a Secretaria de Estado do Turismo estimou em R$ 3 bilhões o impacto positivo do carnaval. No Rio de Janeiro, onde o prefeito da capital, Marcelo Crivella (PRB) reduziu o investimento da prefeitura na festa, o movimento na economia foi de R$ 3,7 bilhões, segundo a RioTur. Os demais estados ainda não apresentaram os resultados, mas as estimativas da CNC eram: Minas Gerais, R$ 615,5 milhões; Bahia, R$ 561,9 milhões; Ceará, R$ 320 milhões; e Pernambuco, R$ 217,6 milhões.
Por outro lado, o gasto das prefeituras com atividades relacionadas ao carnaval é baixo em relação ao resultado econômico. Segundo a SPTuris, o repasse de verba do apoio institucional do Carnaval de São Paulo – que inclui as escolas de samba, bandas, blocos e cordões – foi de R$ 39,7 milhões. O que equivale a aproximadamente 1,2% do que foi movimentado na economia. O valor também é equivalente a apenas 0,5% da verba orçada para a saúde na capital paulista, em 2019. Ou seja, aplicar a verba do carnaval na saúde faria pouca diferença, mas o movimento da economia melhora a arrecadação de tributos que serão aplicados na saúde.
No Rio de Janeiro, Crivella reduziu a verba das escolas de samba de R$ 70 milhões para R$ 30 milhões. E diz que em 2020 não haverá verba pública para o carnaval. Apesar disso, a cidade ainda teve o maior movimento econômico do país por conta da festa, motivado pelos cerca de sete milhões de foliões que participaram das atividades na cidade. Em Olinda (PE), o carnaval contou com investimento público de R$ 6,8 milhões. O resultado foi a criação de 100 mil empregos diretos e indiretos, uma ocupação de 97% da rede hoteleira e uma movimentação financeira de R$ 290 milhões.
Para o coordenador de Projetos da Rede Nossa São Paulo, Américo Sampaio, além de desmentir o senso comum sobre o carnaval, o resultado econômico da festa ainda é um tapa na cara dos que propõem a privatização do espaço público. “O que movimenta a economia e gera riqueza é a utilização pública do espaço público. Quando olhamos para políticas públicas relacionadas ao carnaval se percebe que o que possibilitou isso foi um conjunto de legislações que permitiu o uso real do espaço público. Até a gestão de Gilberto Kassab (PSD), tínhamos uma legislação muito proibitiva. Foi por meio da ruptura dos grupos organizados de rua, que foi absorvido pela gestão Haddad, que levou a isso”, explicou.