SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A parcela dos brasileiros que percebem uma alta nos preços da comida sofreu forte queda entre julho e agosto deste ano, apesar de ainda estar em patamar alto, segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (20)

Neste mês, 60% dos entrevistados apontaram que os alimentos subiram de preço nos 30 dias anteriores, índice que era de 76% em julho. No pico da série, em março deste ano, o índice era de 88%.

Foram realizadas 12.150 entrevistas presenciais entre os dias 13 e 17 de agosto. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Para o CEO da Quaest, Felipe Nunes, essa percepção de queda na inflação dos alimentos é um dos fatores para a melhora na aprovação do governo Lula durante o período. O índice dos que aprovam a gestão do petista subiu de 43% para 46% entre julho e agosto, e os que desaprovam registraram queda de 53% para 51%.

A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi de 0,26% no mês passado, após variação de 0,24% em junho, e ficou abaixo das projeções de mercado.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os preços de alimentos e bebidas caíram 0,27% em julho, mais do que em junho (-0,18%). Um dos destaques do IPCA foi a redução do café moído (-1,01%), que teve a primeira queda depois de 18 meses consecutivos de avanço.

Com essas reduções, a percepção do poder de compra dos brasileiros também teve alguma melhora. Entre os entrevistados pela Genial/Quaest em agosto, 70% consideram que conseguem comprar menos produtos com o salário que recebem. O índice era de 80% em julho e já foi de 81% em março. Enquanto isso, 16% consideram que conseguem comprar mais com o dinheiro recebido, uma alta de 5 pontos percentuais em relação a julho.

De acordo com a pesquisa, 40% dos entrevistados consideram que a economia vai melhorar nos próximos 12 meses (alta de 5 pontos percentuais em relação a julho) e outros 40% acham que vai piorar (queda de 3 pontos ante o mês passado).

Para Felipe Nunes, outro fator que influenciou na popularidade de Lula foi o tarifaço imposto pelo presidente dos EUA, Donald Trump, ao Brasil. Desde 1º de agosto, produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos estão sujeitos a sobretaxa de 50%.

Quase metade dos entrevistados (48%) avalia que Lula e o PT estão fazendo o que é mais certo nesse embate (eram 44% em julho). Para Bolsonaro e seus aliados, o índice é de 28% (29% em julho). 15% consideram que nenhum dos lados está fazendo o que é mais certo e 9% não souberam ou não quiseram responder.

Também metade das pessoas ouvidas (49%) julga que Lula está agindo em defesa do Brasil, contra 41% que disseram que ele busca se promover. 10% não souberam ou não quiseram responder.

De acordo com a pesquisa, 48% dos brasileiros consideram que o presidente brasileiro conseguirá negociar um acordo para reduzir as tarifas (na divisão por posicionamento político, o índice vai de 73% entre os lulistas para 21% entre os bolsonaristas). Enquanto isso, 45% do total de entrevistados avaliam que o petista não será capaz de chegar a um pacto com os EUA para reduzir as sobretaxas.

"Menos pressão inflacionária somada à imagem de um presidente que reage a desafios externos ajudam a explicar o avanço de sua aprovação neste momento", diz Nunes.

Lula e Trump ainda não conversaram diretamente sobre o tarifaço. As negociações têm sido tocadas principalmente pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teria uma conversa com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, mas o encontro foi cancelado. No mesmo dia, Bessent acabou se encontrando com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).