BIOCOMBUSTÍVEL
País tem hoje 250 usinas; algumas delas utilizam insumos de aterros sanitários e esgotos
Em tempos em que a sustentabilidade vem ganhando cada vez mais importância como parte do negócio das empresas, aproveitar o que seria jogado fora pode ser uma estratégia para reduzir custos e ainda ganhar dinheiro. E as usinas de biogás seguem essa lógica, ao aproveitar os resíduos para produzir energia que pode ser utilizada pela própria empresa ou, ainda, ser comercializada no mercado.
Hoje, são cerca de 250 plantas de biogás no país, segundo estimativa da Associação Brasileira do Biogás e do Biometano (Abiogás), com 90% das empresas de médio e grande porte localizadas em Estados das regiões Sul e Sudeste do país, incluindo Minas Gerais.
Os investimentos até 2030 devem chegar na casa dos R$ 50 bilhões. A produção do biometano no ano que vem deve chegar 500 mil metros cúbicos por dia. E, em 2030, a perspectiva é de chegar a 32 milhões metros cúbicos diários, volume um pouco maior que a capacidade de importação de gás natural da Bolívia pelo Brasil, por meio do gasoduto Bolívia-Brasil, o Gasbol. “O Brasil tem muito potencial”, frisa o vice-presidente da associação, que atua no setor desde 2013, Gabriel Kropsch.
Apesar das boas perspectivas, o setor ainda não é muito conhecido quando comparado com outras fontes de energia renováveis, observa a gerente executiva da Abiogás, Camila D’Aquino. “Por isso, um dos objetivos da associação é de disseminar mais o setor”, ressalta.
Em Minas. Várias usinas estão sendo viabilizadas no território nacional. Em Minas Gerais, em setembro do ano passado, a Asja Brasil inaugurou uma usina de biogás, no aterro sanitário de Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte. O investimento total no projeto da Asja, tanto para a fase de produção como para a operação da planta, supera R$ 20 milhões. Há outras duas usinas em Minas Gerais – em Belo Horizonte e em Uberlândia, no Triângulo Mineiro.
E já é possível fazer o abastecimento de veículos com o biogás do esgoto, por exemplo. A tecnologia foi inaugurada no começo de abril pela Sabesp – que é responsável pelo fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos de 368 municípios em São Paulo. A produção é feita em Franca, no interior do Estado.
A gerente executiva da Abiogás ressalta que há várias vantagens na opção pelo biogás, entre elas, a destinação adequada dos resíduos de diversos setores que iriam poluir o meio ambiente. “Não há passivo ambiental”, frisa.
O vice-presidente da entidade conta que existe uma concepção errada de que o biometano seria concorrente do gás natural. “Na verdade, é um grande complemento do gás natural, atendendo regiões onde os gasodutos não chegam”, diz. De acordo com a Abiogás, que conta com 40 empresas associadas, o potencial brasileiro de biogás poderia substituir 44% da demanda por diesel.
Biometano. É obtido pela retirada de vapor de água, gás carbônico, sulfeto de hidrogênio. Tem alto poder de combustão e comportamento semelhante ao Gás Natural Veicular (GNV).
Trator promete custos menores
De olho no mercado de biogás no país, a New Holland Agriculture lançou, na semana passada, um trator conceito movido a biometano, que é um combustível sustentável, mais barato e produzido a partir de resíduos. Durante o evento, em Castro, no Paraná, o diretor comercial da empresa, Alexandre Blasi, ressaltou que não basta apenas destacar os impactos positivos desse tipo de máquina agrícola no meio ambiente, é necessário que haja viabilidade econômica. A ideia é que o trator seja utilizado em fazendas autossustentáveis, que geram energia e combustível utilizado nas suas máquinas.
Para o gerente de marketing de produto da New Holland, Nilson Righi, a fazenda do futuro não produz só alimento, produz também energia. “Isso já é uma realidade na França, por exemplo”, frisa. No Brasil, as iniciativas são recentes e a perspectiva é que as fazendas autossuficientes em energia devam ganhar força num prazo de cinco a dez anos
E foi justamente em Castro, na Chácara Marujo, que está sendo testado o primeiro protótipo do trator T6, movido a metano, desde o ano passado. “O trator é bem silencioso”, diz o holandês Jan Haasjes. Em sua propriedade já existe produção de biometano. Para isso, ele investiu cerca de R$ 3,5 milhões. “No momento, estou lutando para que o investimento se torne lucrativo”, diz Haasjes, que está no Brasil há 45 anos.