Brasil247 - Para o economista Armínio Fraga, o atual período eleitoral apresenta mais riscos para o mercado financeiro do que em 2002 (quando presidiu o Banco Central no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso (PSDB)). Nesta quarta-feira (22), o dólar teve a sua sexta alta consecutiva e fechou cotado a R$ 4,0529. Em 2002, a moeda norte-americana chegou a R$ 7,00, em valores atualizados. "Os mercados vão reagir ao que é dito, a como as coisas são ditas e a quem vai, ao longo do tempo, conquistar a posição de favoritismo no pleito", disse Fraga em entrevista ao jornal Valor Econômico. "Não é o mais provável que o câmbio vá a R$ 7,00, esse seria um cenário extremo, que exigiria um governo comprometido com o erro", emendou.
Segundo ele, a crise econômica, a incerteza com o futuro e a crise política resultaram em "um quadro muito difícil, porque temos um Estado fragilizado do ponto de vista financeiro e uma economia muito machucada do ponto de vista da produtividade, depois de políticas incrivelmente mal desenhadas e regressivas, como a chamada Nova Matriz Macroeconômica. Houve um progresso recentemente, algumas reformas importantes passaram, mas o quadro geral é ainda extremamente preocupante".
Para o economista, "o que hoje conta mais é o que vai acontecer em outubro. Diria mais, o que vai acontecer até lá: qual vai ser a qualidade do debate, o posicionamento dos candidatos e a expectativa sobre quem vai ganhar. Imagino um período de bastante turbulência. Tipicamente, os mercados vão reagir ao que é dito, a como as coisas são ditas e a quem vai, ao longo do tempo, conquistar a posição de favoritismo no pleito", afirmou.
Armínio diz ver semelhanças com a crise de 2002, apesar de ressaltar que "as pontes construídas junto ao mercado" naquela época não valem para a realidade atual. " Em alguns aspectos, lembra 2002, quando o mercado entrou em pânico, com medo de que o PT fosse de fato executar o seu programa econômico histórico. O medo foi aos poucos debelado pelo próprio PT. Naquela altura do jogo, estávamos ali com o dedo no pulso do paciente. Eu estava no Banco Central, talvez a posição mais conectada com essas vibrações. Tínhamos plena consciência de que aquilo que poderíamos fazer tinha limites, de que seria preciso um comprometimento dos candidatos. Houve um esforço na direção de tentar construir pontes e, através dessas pontes, deixar claro a todos que a situação seria administrável sem grandes esforços. O que não é o caso hoje ", avaliou.
"Em 2002 e 2003, quando você olhar o que aconteceu com a política fiscal, foi pouquíssimo. Houve um pequeno ajuste adicional. Foi um grande ajuste quando comparado com o que se esperava, mas na prática foi mais ou menos 0,5% do PIB de aperto adicional. Na política monetária também, nós já tínhamos feito um aperto enorme no ano anterior. Hoje, a situação é bem diferente porque o Brasil precisa passar por um processo de reformas importantes, em particular nas duas grandes frentes, na frente fiscal e também no que podemos chamar de forma mais genérica de máquina de crescimento, que está ainda bem escangalhada", disse.
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