QUADRINHOS
 
A estreia de um personagem brasileiro no reino de Walt Disney não poderia ser melhor, protagonizando um longa-metragem (“Alô, Amigos!”) de repercussão internacional, ao lado de ninguém menos que o pato Donald. Foi assim que o papagaio Zé Carioca surgiu para o mundo, em 1942.


Com um núcleo próprio de histórias e título de gibis de sucesso por vários anos no Brasil, o papagaio de terno, chapéu palha e guarda-chuva nasceu “malandramente” nos morros do Rio de Janeiro, assim como a sua criação só foi possível para garantir o Brasil ao lado dos EUA na Segunda Guerra Mundial.

Um ano antes, o próprio Walt Disney veio ao Brasil, dentro da política de boa vizinhança americana, ao lado de vários de seus desenhistas. Dali surgiu o personagem que protagonizaria não só um, mas dois longas que misturavam desenhos com live action – o outro foi “Você Já foi à Bahia?” (1944).


Após a vitória sobre os alemães, Zé Carioca foi aposentado de sua carreira internacional. “O sucesso do papagaio fora do país foi efêmero, durando enquanto os dois filmes que participou na década de 40 ainda repercutiam”, assinala Marcus Ramone, autor do livro “Entre Patos e Ratos – A Epopeia dos Quadrinhos Disney” (Noir).

“Desde então, ele fez poucas e ocasionais aparições em longas, como ‘Uma Cilada para Roger Rabbit’ (1988), e séries animadas, como ‘Ducktales’ (2018), mas ganhou uma série própria em 2019, no serviço de streaming Disney +”, observa. A série, por sinal, põe Zé Carioca novamente lado a lado com Donald.


O pesquisador recorda que, no exterior, as tirinhas seguiram o mesmo caminho dos filmes. A série iniciada em 1942,em jornais dos Estados Unidos, foi descontinuada dois anos depois. O que não quer dizer que o papagaio desapareceu do mapa. Em 1961, ele ganhou revistinha própria pela Abril.


“A revista fez sucesso. Era uma das preferidas dos fãs dos personagens de Walt Disney e, durante as primeiras décadas de publicação, foi uma das campeãs de vendas da editora”, afirma Ramone. Ela só foi interrompida quando a Abril encerrou o contrato e deixou de lançar os gibis da Disney, em 2018.


Do nascimento até os dias de hoje, Zé Carioca continuou sendo sinônimo de malandro. “Na verdade, aquela malandragem ‘romântica’, ‘ingênua’, por assim dizer, dos primeiros anos, foi cada vez mais se transformando em outras características mais marcantes. Ele é mais do que malandro. É caloteiro, trambiqueiro, politicamente incorreto, preguiçoso, dorminhoco e avesso ao trabalho.