Três exposições temporárias são inauguradas a partir desta quinta (6) no Instituto Inhotim com obras de consagrados
Almejar outras formas de ver e relacionar-se com o mundo é uma premissa já conhecida da arte contemporânea. Mas o que parece ser uma fonte inesgotável são as maneiras como os artistas propõem alcançar esse objetivo. Três novas exposições temporárias, que serão inauguradas nesta quinta-feira (6) no Instituto Inhotim, refletem essa perspectiva, com destaque para a coletiva “Lamelas, Irwin, Kusama: Sobre a Percepção”, com obras do argentino David Lamelas, do norte-americano Robert Irwin e da japonesa Yayoi Kusama, montada na Galeria Lago.
Ao lado desta, serão apresentadas “Para Ver o Tempo Passar” – uma coletiva centrada em trabalhos audiovisuais, na Galeria Fonte –, e a individual “Paul Pfeiffer, Ensaios Vitruvianos”, que contempla duas obras do norte-americano. As três iniciativas retomam os projetos expositivos do museu e jardim botânico que, desde 2017, não exibia novas mostras. Como já aconteceu em anos anteriores, o lançamento do programa coincide com o início da Bienal de São Paulo, cuja 33ª edição será inaugurada no dia 7 (leia mais na página 8). A ideia é atrair para Brumadinho parte dos visitantes interessados em conferir a segunda mais antiga bienal do mundo promovida na capital paulista.
“Nós casamos a abertura das exposições com a da Bienal justamente porque esse é o momento em que os olhos do mundo estão voltados para o Brasil”, pontua María Eugenia Salcedo, que é diretora artística adjunta do Inhotim. Ela acrescenta que as mostras temporárias contribuem para “ressignificar os espaços” do Instituto. O que, desta vez, não aconteceu apenas de maneira simbólica, afinal as galeria Lago, Praça e Fonte foram reconstruídas para abrigar as obras, que estabelecem conexões diretas com a arquitetura e o ambiente em torno. Algo nítido nos trabalhos “Untitled (Falling Wall)” e “Corner Piece”, de Lamelas.
O primeiro envolveu a construção de uma parede em drywall com 10 metros de comprimento por 5,5 metros de altura, pesando cerca de duas toneladas e sustentada por vigas de madeira encontradas nas próprias imediações de Inhotim. O segundo, trata-se de uma intervenção mais discreta em um dos cantos da galeria, mas não menos importante conceitualmente. “Com essas estruturas, o artista chama atenção para o fato de que a arquitetura da galeria nunca é neutra”, frisa a curadora assistente Cecília Rocha.
Na mesma toada segue Irwin, com a obra “Black³”, que até então era inédita no Brasil. Além de lançar um olhar para a relação com o espaço, o norte-americano, que tem trajetória iniciada na pintura, parece voltar-se ali aos princípios da composição pictórica, que retoma reflexões sobre os jogos entre sombra e luz.
“A partir dos anos 60, Robert Irwin se volta à questionamentos ligados à natureza da pintura. Como nós enxergamos? Como interagimos no espaço? O que acontece a partir da incidência de terminada luz? Essas são algumas perguntas que começam a modificar completamente os seus trabalhos”, observa María Eugenia.
Yayoi Kusama, por sua vez, expõe outra obra site specific intitulada “I’m Here, But Nothing” (2009), que reproduz o ambiente de uma sala de estar, mas tomada por uma atmosfera incômoda e insólita. Haja visto a explosão de bolinhas coloridas – uma das marcas da artista – que cobrem todas as superfícies, e a presença de lâmpadas fluorescentes instaladas no local. “Essa luz nos fascina, mas ao mesmo tempo nos repele. Há uma tensão que é gerada por meio dessa atração e da repulsa”, completa María Eugenia.
Outras investigações a partir das imagens
Em “Para Ver o Tempo Passar” o audiovisual é visto em interface com outras linguagens, como a pintura, a escultura e a arquitetura no trabalho de oito artistas. Entre eles, o belo-horizontino Marcellus L., que vai promover a performance “Stallgewitter” (Tempestade de estábulo) ao lado do alemão Daniel Löwenbrück, quinta-feira, às 15h30, no Espaço Igrejinha.
Na coletiva, Marcellvs expõe “Overground”, que consiste em uma instalação audiovisual, na qual uma tela é fixada no teto de uma sala onde o som também é protagonista. “Marcellvs equaliza as imagens com os sons, por meio de vibrações que são sentidas no corpo”, comenta María Eugenia.
Espetáculo. Na individual “Paul Pfeiffer, Ensaios Vitruvianos”, um dos destaques é a obra “Vitruvian Figure”. A escultura com cerca de três metros de altura é inspirada no Estádio Olímpico de Sidney e sustenta-se como uma maquete fantasiosa de uma arena esportiva com capacidade para um milhão de lugares. “Paul, como os artistas das outras mostras, está partindo de algumas perguntas. Por exemplo: como a gente lida com a noção de espetáculo e de jogo? E essa obra não deixa de ser uma plataforma que nos faz olhar para esse objeto de forma diferente”, diz María Eugenia.
Agenda
O quê. Inauguração de três exposições temporárias
Quando. Quinta (6), das 9h30 às 17h30
Onde. Instituto Inhotim (Brumadinho)
Quanto. R$ 44 (inteira)