Como boa anfitriã mineira, a Casa Rosada Gasmig Minas recebe o público pela cozinha. É por ali que começa a visita ao novo equipamento do Circuito Liberdade, que abre as portas para o público nesta quinta-feira (20/11).

A proposta é que todas as pessoas, com dificuldade de locomoção ou não, subam a rampa do edifício da década de 20, que passou por intervenções mínimas para garantir acessibilidade e realizar os reparos estruturais necessários.

E, embora o espaço não funcione mais como cozinha, dali ainda é possível sentir o cheiro de café e pão de queijo assando no Afeto, espaço gastronômico instalado na antiga garagem da casa, também aberto ao público.

Localizada na rua da Bahia, a Casa Rosada Gasmig Minas foi cedida à gestão do Minas Tênis Clube para que o imóvel fosse destinado ao uso cultural. Nos últimos dois anos, o espaço passou por restauração e agora abre as portas com a mostra “Habitar o /in/visível – Coabitar a Cidade”, com curadoria de Marconi Drummond e Maurício Meirelles. 

“Selecionamos o projeto porque ele fala sobre a ocupação da cidade e da contemporaneidade. A exposição faz a conjunção dos tempos pelos quais Belo Horizonte já passou. Queremos que a Casa Rosada se transforme em um novo point, um oásis de cultura e gastronomia”, disse gerente de cultura do Minas Tênis Clube, Wanderleia Magalhaes, em conversa com a imprensa realizada na manhã desta terça-feira (18/11).

O que a cidade era antes do antes?
Para montar a mostra, Marconi Drummond e Maurício Meirelles partiram do seguinte questionamento: “o que a cidade era antes do antes.” Ou seja, os dois foram em busca do que existia no território na capital mineira antes mesmo do antigo Curral Del Rey. “Estudamos na escola que a história de Belo Horizonte começa com a destruição do arraial para ser construído a capital de Minas, mas nos perguntamos: ‘quem habitava isso antes?’”, reflete Marconi Drummond. 

Ao todo, a exposição é dividida em sete eixos, e o primeiro deles, “Origem”, começa com registros da existência de povos caçadores e coletores do território, com acervo vindo de uma instituição arqueológica de Lagoa Santa, cidade de onde há registro de Luzia, um dos mais antigos esqueletos humanos encontrados na América do Sul.


Ao mesmo tempo, lá também há um registro contemporâneo de 2015, feito pela astronauta italiana Samantha Cristoforetti, que postou em seu perfil no X (antigo Twitter) uma imagem de Belo Horizonte vista do espaço. “É possível ver o adensamento da cidade e identificar exatamente o partido urbanístico definido por Arão Reis, ainda presente neste milênio em que vivemos. É um outro ponto de vista sobre a cidade”, analisa Marconi Drummond.

Assim como no primeiro eixo, toda a mostra, formada em sua maioria por obras de artistas de Belo Horionte, apresenta uma “mistureba” de acervos, que contempla passado, presente e futuro. No mesmo espaço, convivem elementos históricos e contemporâneos, em uma narrativa que atravessa diferentes tempos e linguagens. 

“A ideia por trás da construção do pensamento da curadoria está muito mais ligada a uma noção não-linear de progresso, como se tudo fosse, necessariamente, melhorando com o tempo. Não é essa a proposta. Algumas questões aparecem repetidamente na história da cidade, como os operários anônimos que continuam construindo Belo Horizonte”, afirma Maurício Meirelles.

Casa é um grande acervo vivo
Além da exposição, a própria casa se apresenta como um grande acervo vivo. Projetado em 1929 pelo arquiteto Luiz Signorelli para uso residencial, o edifício tem estilo arquitetônico eclético com forte influência neoclássica. O imóvel chegou a ser usado comercialmente até ser tombado em 2002. A restauração preservou grande parte de sua estrutura original, como o piso da época.

“Ora estamos contemplando um trabalho artístico, ora o nosso olhar é atraído pelos elementos arquitetônicos e decorativos da casa. O tempo todo, o nosso olhar é convidado a migrar do acervo para a arquitetura que o contém, e que, por sua vez, também se torna parte desse acervo. A casa não quer ser apenas um invólucro, ela também é parte ativa dessa experiência do visitante da exposição”, explica Meirelles.

A mostra “Habitar o /in/visível – Coabitar a Cidade” é permanente, com duração prevista de cinco anos, porque a ideia é que novas obras ocupem o espaço. “Teremos outras ações de ativação desse espaço, que vão dialogar com esses conteúdos sempre relacionados à história da cidade. E outras exposições virão, com certeza”, afirma.

SERVIÇO

O quê. Exposição “Habitar o /in/visível – Coabitar a cidade”, na Casa Rosada Gasmig Minas

Horário para visitação: terça-feira a sábado, das 12h às 19h, domingos e feriados, das 12h às 18h

Onde. Rua da Bahia, 2.425, Lourdes

Quanto. Entrada gratuita