Exposição 'Litografia – Lotus Lobo' reúne obras icônicas e inéditas da artista mineira que é referência na gravura

A litografia industrial produzida, principalmente, em Minas Gerais, entre os anos 20 e 50, é objeto de pesquisa da artista mineira Lotus Lobo desde a década de 60. De lá para cá, ela se tornou uma das mais respeitadas artistas brasileiras atuantes nesse segmento e desenvolveu um trabalho pautado em um precioso acervo garimpado por ela em fábricas antigas. A extinta Estamparia Juiz de Fora, que produzia rótulos de embalagens diversas, foi um dos lugares onde Lotus adquiriu insumos revisitados em obras importantes de sua carreira, como as da série “Maculatura”.

Esta, que foi concebida em 1970, poderá ser vista na mostra “Litografia – Lotus Lobo”, que abre nesta terça-feira (16) para convidados, na Galeria de Arte do Centro Cultural Minas Tênis Clube, e na quarta (17) para o público. A exposição, com curadoria de Marcelo Drummond, Guilherme Machado e Márcia Renó, oferece ao visitante um panorama da trajetória de Lotus e reúne criações inéditas, que demonstram a continuidade de suas experimentações.

Uma delas é o conjunto baseado em caixas de papelão usadas para transportar produtos de marcas atuais. Sobre esses suportes, Lotus insere desenhos próprios, seguindo o modelo de superposição, que ecoa processos de criação de imagem semelhantes aos envolvidos na icônica “Maculatura”. Vale frisar que esta, diferentemente da mais recente, não recebeu intervenção direta da artista e é constituída de folhas de flandres com várias camadas de tintas aplicadas por máquinas.

Lotus recorda que, ao ver essas chapas – eram descartadas pela fábrica, pois serviam apenas para teste e ajuste de cores –, identificou nelas uma oportunidade. “Essas chapas ficavam à disposição das máquinas, e para não desperdiçar esse material, eram feitas muitas impressões sobre elas. Então, havia chapas com mais de dez cores, o que foi dando essas superposições de que eu resolvi me apropriar. Mas nunca mais houve essa apropriação da minha parte, e, hoje, eu acho interessante que as peças dessa série configuram uma obra fechada”, relata a belo-horizontina.

Marcelo Drummond ressalta que “Maculatura” proveu a artista com estímulos e procedimentos essenciais em sua pesquisa. “É a partir daí que conceitos como sobreposição, modulação e multiplicação passam a figurar de maneira mais intensa nas experimentações dela”, pontua ele, que também é artista e professor da Escola de Belas Artes da UFMG.

Espaço

A disposição das obras na galeria busca aproximar-se do ambiente de uma oficina de gravuras, reforçando, assim, a experiência de Lotus nessa seara. Ainda na década de 70, ela montou a Oficina de Litografia da Escola de Belas Artes da UFMG. Dessa forma, a exibição das peças é praticamente desprovida de projeto arquitetônico, sendo usadas apenas as paredes da galeria e mesas para sustentar pedras litográficas – um desses móveis, inclusive, é original da Estamparia Juiz de Fora e foi posicionado na entrada, com uma pedra litográfica sem inscrições.

“Isso marca o ato inaugural dessa oficina. Depois, o visitante vai poder percorrer o que chamamos de ‘mesas de trabalho’ até encontrar outras peças que ‘descansam’ em outra parte da galeria. Eu brinco que elas estão colocadas ali como se estivessem largado serviço, configurando uma biblioteca de imagens”, diz Drummond. As pedras pesam em média 60 kg e são importadas da Alemanha. O curador sublinha que Lotus as valoriza como obras autônomas, e não apenas matrizes.

“Ela rompe com a perspectiva canônica da gravura que enxerga a pedra apenas como um estágio para a produção da obra final. Em vez disso, ela assume a pedra também como produto artístico”, completa.

Acervo histórico que demanda uma maior atenção

Há décadas, Lotus Lobo reúne e conserva desde pedras litográficas até impressões e embalagens que não só têm grande importância para as artes visuais, mas também são referência fundamental para o design gráfico brasileiro.

O curador Marcelo Drummond ressalta que a exposição pode fornecer uma verdadeira “aula” do que se pode chamar de um incipiente design mineiro e, por extensão, brasileiro. “Algo que o Brasil ainda desconhece. A mostra traz condicionantes e questões substanciais para entender o que seria uma identidade de um design gráfico brasileiro”, diz Drummond.

Lotus Lobo reforça o interesse nesse tipo de perspectiva e ressalta que a iniciativa também tem o objetivo de atrair interesses e esforços para que um centro de memória, a partir do acervo coletado por ela, possa ser erguido. “Gostaria que, a partir dessa exposição, as pessoas tivessem o olhar para a importância de se preservar esse material, que não pode ficar guardado dentro de uma casa. Eu mesma estou tendo uma oportunidade maravilhosa de ver tudo reunido em um espaço digno e nobre que esses antigos desenhistas merecem. E junto disso vai o meu trabalho, que dialoga com a obra desses artistas”, afirma Lotus.

Agenda

O quê

Abertura da Mostra “Litografia – Lotus Lobo”

Quando

Terça (16) para convidados. Visitação de 17.10.18 a 13.1.19, de terça a sáb., das 10h às 20h; dom., das 11h às 19h

Onde

Galeria de Arte do Centro Cultural Minas Tênis Clube (rua da Bahia, 2.244, Lourdes)

Quanto

Entrada gratuita