Debater o assunto em casa e nas instituições de ensino é essencial para evitar tragédias

A morte do pequeno James Myles, 9, nos Estados Unidos – supostamente um suicídio por ter sofrido bullying ao dizer aos coleguinhas que era gay, segundo relatos de sua mãe –, faz ressurgir a discussão sobre as formas de se prevenir que tragédias como essa, cada vez mais frequentes, aconteçam mundo afora. Sua mãe, Leia Pierce, disse nesta quarta-feira (29) à BBC que se sente culpada pela morte do filho, mesmo tendo dito a ele que o amava do mesmo jeito quando o menino revelou a ela ter descoberto que era homossexual.

De acordo com Edinalva Borges, psicóloga especialista em crianças, agressões verbais contra a homossexualidade são apenas uma das causas do bullying. “Geralmente, as vítimas têm características que não se ‘encaixam’ ou não são consideradas ‘perfeitas’ por determinados padrões sociais. Pode ser algo físico, como estar acima do peso, usar óculos, ou de comportamento, como aconteceu nos EUA”, ela explica.

Segundo o psicólogo Roberto Debski, a falta de debate sobre o bullying dentro de casa contribui para o aumento dos casos e suas consequências. “Muitos pais acreditam que, se eles não falam sobre determinado assunto com os filhos, o assunto não existe. O que não é nem um pouco verdade. É um assunto polêmico e, muitas vezes, delicado de lidar, por envolver suicídio, mas que deve ser discutido. Os pais devem conscientizar e orientar”, aconselha.

Debski diz que a abordagem depende de cada caso. “Por exemplo, se seu filho soube dessa tragédia nos EUA, procure abordá-lo de forma natural, tentando saber como ele ouviu, descobriu, como se sente e a opinião dele”, diz. Caso a criança ou adolescente não tenha conhecimento, o mais importante é fazer uma introdução sobre o assunto. “Em ambas as situações, os pais e responsáveis não devem criar alarde ou assustá-los, além de considerar a idade de cada um”, pontua.

Ação. O psicólogo alerta sobre a participação da escola nesse processo. “É lá dentro que a maioria das agressões verbais e violentas costumar acontecer. Por causa disso, a instituição tem uma grande responsabilidade na implantação de medidas que, antes de mais nada, previnam o bullying. É necessário aproximar todos para um diálogo claro e aberto sobre essa triste situação”, afirma Debski.

Para o especialista, o bullying é um ato injustificável. “O seu motor é o desejo de exercer o poder e a autoafirmação, por meio da agressividade, não importando qual o motivo. É por isso que o debate se faz tão urgente, para impedir que novas tragédias envolvendo mortes tão precoces aconteçam”, ressalta.

Criança que se expressa torna-se adulto maduro

Quando o assunto é bullying, é comum que as abordagens sejam sobre causas, efeitos e orientações a pais e responsáveis para eliminar o problema. No entanto, crianças e adolescentes que são vítimas dessa violência devem encontrar incentivo para se abrirem, afirma a psicóloga Edinalva Borges.

“A partir dos sete, oito anos, a área pré-frontal do cérebro – responsável pelo processo de planejamento e maturidade mentais, por exemplo – está começando a se desenvolver”, diz.

A especialista explica que se trata de uma fase crítica na formação do ser humano. “Crianças e adolescentes, que conseguem conversar sobre o que passam e sentem, tendem a se tornar adultos emocional e psicologicamente maduros”, afirma.