Homens tomam gosto pelo item de moda praia que, além do Carnaval, agora também é alternativa também para produções do dia a dia

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O designer Lucas de Feitas, 29, usou um maiô pela primeira vez no Carnaval do ano passado. E foi por acaso. “Uma amiga comprou um modelo e, quando vestiu, não gostou muito. Então, me perguntou: ‘Por que você não usa e a gente sai de maiô juntos?’. Resolvi vestir e ficou bom”, relembra. No primeiro momento, Lucas conta que ficou com vergonha e se sentiu reprimido em ter que enfrentar possíveis olhares tortos na rua. Mas foi só chegar ao bloco que tudo correu melhor do que o planejado.

“Achei o maiô uma peça extremamente confortável, prática e não sofri repressão de ninguém na rua”, relembra ele, que chegou para o bloco com um short e, depois, ficou somente com ele”. A experiência o levou a tomar gosto pela peça. Desde então, sua saga é buscar maiôs confortáveis para vestir em todos os dias deste Carnaval. “Eu não tenho muita paciência para me fantasiar, e o maiô me permite brincar com outras peças e investir em modelos e cores de pochetes também”, disse ele, que possui nove modelos em seu acervo. O look para a folia é sempre complementado por meias coloridas e tênis.

Movimento. Mas Lucas não é o único que tomou gosto pelo item. A peça tem ganhado espaço no armário de muitos outros homens, principalmente embalados com os dias de folia que estão por vir. Na semana passada, a revista “Ela” também publicou alguns perfis no Instagram, como o do produtor cultural Thum Thompson (@thum), que possui em seu guarda-roupa 17 modelos.

O stylist David Souza acredita que o maiô é peça para além do Carnaval, pelo menos no armário dele. “Estou vendo artistas e grandes marcas investindo na tendência esportiva do maiô, combinando até com peças de alfaiataria. Eu acho incrível”, pondera ele, que gosta de combinar um modelo preto e básico com sobreposições de camisa estampada e jeans.

Ainda de acordo com ele, o Carnaval dá a possibilidade de transformar o maiô na base de várias fantasias. “É fácil encontrá-lo a um preço superacessível, principalmente em brechós. Nesses locais, é comum encontrar modelos como os icônicos de asa delta, dos anos 80”, disse.

Na vitrine. Ao mesmo tempo, algumas marcas locais estão engajadas no movimento que preza pela liberdade de todo mundo usar o que quiser e, assim, incorporam o traje às suas coleções. Caso da etiqueta mineira Dusted. “Fizemos bodies que vão do PP ao GG a fim de vestir diferentes corpos. Além da diversidade de tamanhos, também fizemos modelos com abotoamento regulável para dar mais conforto”, explica um dos sócios da marca, Thiago Bernardo.

Quem confirma é o estilista Dill Diaz, que investiu no maiô há cerca de dois anos para ser um dos carros-chefe de sua marca, a Trash. O motivo? Um desejo pessoal em querer usar a peça, mas nunca ter encontrado uma boa opção no mercado.

“Também queria resgatar esse ícone dos anos 80 com uma linguagem contemporânea, traduzida em corpos livres e diversos”, disse ele, que prezou por modelagens confortáveis, que vestissem tamanhos e corpos diferentes. E, para este Carnaval, apostou novamente na peça para seus clientes, que, segundo ele, são “pessoas livres”.

“A ideia é aproveitar esse clima festivo de libertação dos corpos, mesmo que Belo Horizonte não tenha praia”, defende. “O Carnaval de rua da cidade se popularizou juntamente com essa vontade do mineiro de se jogar e ser livre pra usar o que quiser, mesmo sabendo existem aqueles que são mais tradicionais no modo de se vestir”, explica. “Essa é a época em que até os meninos se sentem mais livres pra se jogarem na folia de maiozão”, brinca.
Lucas de Freitas endossa o discurso e diz não se preocupar em passar por cima de qualquer julgamento. “A forma com que a gente se veste é um ato político, ainda que não tenha tantas ambições. Usar um maiô mostra um posicionamento em ser livre na sociedade”, finaliza.

Outra boa notícia ainda é que a peça é superversátil para os homens em ocasiões além das festividades. “Vale ficar atento às referências esportivas que estão na moda para combinar o maiô com outras peças, como a calça jogging, com elástico na canela e na cintura, ou jeans bem larguinho”, sugere David.

Fato é que o maiô parece ter vindo para ficar. “Eu não acredito que a peça vai adentrar o armário masculino só durante o Carnaval. Ela vai ficar durante o ano inteiro”, profetiza o stylist.

Na falta de fantasia, a saída é improvisar

O uso do maiô por meninos é uma boa e prática alternativa para improvisar a fantasia de Carnaval, uma vez que ainda é raro ver marcas focadas em criar opções carnavalescas também para eles. Neste ano, entretanto, a carioca Farm, por exemplo, incluiu produções masculinas com muito brilho. A colaboração especial entre a etiqueta e a Estação Primeira de Mangueira contempla, inclusive, um body em verde e rosa para ser usado também por homens.

“Carnaval é época de diversão e fluidez no comportamento, nas roupas e na vida e é nisso que apostamos com esse body. Uma peça leve, versátil e tão em alta... por que ser limitada a um gênero só?”, defende Katia Barros, diretora criativa da Farm. “Embora a gente seja uma marca de moda majoritariamente feminina, nos sentimos à vontade para convidar os meninos a se fantasiarem junto, e criamos fantasias pra eles também”, explica.

Mas não só. O estilista mineiro Virgílio Andrade, à frente da marca Virgílio Couture, também criou opções pensadas também para os homens, com estampas em animal print de oncinha – uma das referências de seu trabalho. “Eu quis fugir do óbvio de homem que veste roupa de mulher como fantasia e criei peças separadas e confortáveis, com pegada mais soltinha”, contou.

Por outro lado, a opção de customizar quando não há opção de produções já prontas também é válida. Caso do diretor de marketing Lucas Tavares. Em suas andanças pelas lojas de bugigangas no centro da cidade, qualquer objeto inusitado encontrado vira fantasia.
“A partir de algo que encontro, eu vou criando um personagem e uma fantasia. Sempre recorro também ao meu acervo do ano anterior, desmonto e recrio outra opção”, disse ele. “É preciso desapegar. A fantasia vai passar por suor, chuva e pode derreter. Por isso, não vale muito investimento”, acredita.