A inflação no Brasil, medida pelo IPCA e vários outros índices de preços, como o IGP-M, mostra que está voltando com certa força e que poderá se acelerar caso nada for feito. Os indicadores apontam para necessidade de acender o sinal de alerta na equipe econômica. Sinalizam para a interrupção da temporada de juros baixos. Prejudicam a confiança no futuro do país.

Depois de um período de contenções de repasses aos preços finais decorrentes dos aumentos de custos, vítimas que fomos de uma pandemia que cortou a produção em várias atividades e reduziu a circulação de pessoas, o mercado vai se aproveitando do ciclo de demanda aquecida para fazer reajustes de preços antes contidos.

Daí que, numa situação em que os custos dos insumos das fábricas sobem, devido à redução da oferta, num momento de reposição de estoques; somada ao aumento do consumo das classes populares, devido ao auxílio emergencial; combinadas com a subida do dólar, pelo aumento da demanda por divisas e a saída líquida de investimentos estrangeiros da bolsa de valores; já era de se esperar uma subida de preços.

A demanda se aqueceu, sobretudo, pela irrigação de dinheiro do auxílio emergencial e ampliação das condições de crédito. O rendimento médio das famílias mais pobres cresceu. Estas e outras medidas emergenciais terminam em dezembro, se nada vier para ocupar seu lugar. Penso também no que poderá acontecer no mercado de trabalho, uma vez que as perspectivas de elevação do desemprego são bastante concretas. Traz também a possibilidade de redução do consumo o que ajudaria a conter as pressões inflacionárias.

Os índices de desemprego estão crescendo e parece que crescerão ainda mais, já são 14 milhões de trabalhadores desempregados, podendo chegar a 22 milhões, sem contar os desalentados e os que gostariam de poder trabalhar mais horas. Se não houver a continuidade dos incentivos que mantiveram vários postos de trabalho ativos a situação tende a se agravar.

Os indicadores de desemprego cresceram porque os sinais de recuperação da economia levam mais pessoas desalentadas a procurar trabalho e cresceram porque sem a perspectiva de terem incentivos, muitos empresários voltaram a demitir.

Outra situação que preocupa é a força de uma segunda onda da Covid na Europa. Se uma segunda onda de contágio crescer no mundo com aumento de mortes, vai provocar novas medidas restritivas como o endurecimento do isolamento e “lock downs”, provocando revoltas populares e instabilidade. Produzindo, ainda, nova paralização da economia mundial.

Voltemos à inflação brasileira, a partir do aumento dos preços dos bens de consumo assalariados, especialmente alimentos e vestuário, os índices de preços de outubro parecem dar mostras de disseminação para outros bens que compõem a cesta de produtos utilizados nos cálculos. Em meses anteriores pesaram também os aumentos nos combustíveis.

Segundo reportagem do jornal Valor de 28-10-2020, em outubro, o IPCA-15 ficou em 0,94%, o maior para o mês desde 1995, com alimentação no domicílio atingindo 16,8% em 12 meses. E na segunda prévia de outubro, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) subiu 20,56% em 12 meses até setembro, com alta de 28,64% no atacado.

Entre as causas dos aumentos de preços podemos citar, a alta do dólar, uma vez que insumos importados impactam nos preços finais, mesmo em tempos de recessão. E novamente os preços dos alimentos que subiram bastante, consequência das exportações, que reduziram os estoques para oferta no mercado interno e também da própria dolarização de preços, pois seus valores acabam sendo cotados na moeda estrangeira. Aliás, pode-se comprovar que os chamados estoques reguladores deixaram de ser uma realidade no Brasil, o governo federal não tem mais por política mantê-los em volumes suficientes para eventuais momentos de escassez de oferta, por razões de prudência fiscal e redução de gastos. Isso ajudaria a manter os preços em patamares mais razoáveis para a população.

A subida de preços de alguns itens fora dos produtos de alimentação, no mês de outubro, vai se confirmando a disseminação das pressões altistas. Muitos produtores dependentes de componentes importados estão aproveitando o momento para fazer repasses para os preços finais. Em que pese terem um baixo peso na cesta de consumo, produtos eletrônicos tiveram um aumento de 15,8% de janeiro a setembro, medidos pelo IPCA-15.

Então, podemos perceber que economia não é matéria simples e tudo depende de tendências e evolução dos fatos, que se estabelecem e que se confirmam ou não. Há fatores que nos levam a crer na continuidade da elevação de preços até o fim do ano, mas há fatores que poderão aumentar a recessão, interrompendo a retomada da economia, que evitam os repasses de aumentos nos custos para os preços finais.

Como estão as expectativas dos especialistas? No momento, as expectativas do mercado não apontam para um descontrole inflacionário, mas todos os dados apontam para uma inflação mais elevada no último trimestre de 2020 e maior para 2021. Já se fala em um índice próximo da meta do governo de 4% em 2020 e de 3,5% para 2021. Isso se não se perder o controle, mantendo-se as políticas de responsabilidade fiscal e a ancoragem das expectativas dos agentes econômicos, feita pelo Banco Central com maestria. O risco de não se cumprir a meta de inflação no ano está na incerteza sobre as contas públicas, devido a seu potencial de depreciar a taxa de câmbio. Os riscos estão, também, na segunda onda de contágios da Covid e na impossibilidade de aprovação das reformas que se encontram paradas no Congresso Nacional. Os riscos estão presentes na sequência de desentendimentos intra-poderes e entre os poderes da República.

Finalmente, vale lembrar que os riscos dos desequilíbrios e desacertos econômicos são muitas vezes decorrentes de desacertos e vaidades políticas, da insegurança jurídico-institucional, de declarações infelizes e da falta de lideranças adequadas que o momento exige.

 

*Paulo Roberto Bretas – Economista e Conselheiro do Corecon-MG