*Convidado 

*por Sérgio Marchetti

 

Há um bom tempo tenho sido agraciado por escrever neste espaço. E, é com muita honra, que usufruo da liberdade de expor, aqui, fatos, histórias e, ainda, de expressar minha opinião, sem ter a pretensão de agradar a todos, mas sem extrapolar meu direito de opinião e ferir princípios de terceiros.

Tive um professor no antigo colegial (não sei se já falei dele) que dizia que poucas pessoas estariam aptas a receber um tratamento de liberdade plena. Um dia, ao iniciar sua aula, disse que poderíamos dar risadas à vontade e conversar com os colegas do lado por cinco minutos. Depois, faríamos silêncio total.

Óbvio que, imediatamente, se viu um falatório geral com todas as vozes ao mesmo tempo, pés batendo no chão e gritaria, sem falar dos tapas nas cabeças dos colegas da frente. De repente, um grito: — silêncio! Acabou o tempo de vocês.

Naquele dia, compreendi que somente uma minoria está preparada para ter liberdade. Naquele profético dia, compreendi também que não era a liberdade nossa primeira necessidade. Era a educação — um povo sem educação não consegue identificar os limites do respeito.

Transcorreram-se anos, entretanto aquela lição continua forte em minhas convicções. Apesar de, em minha vida profissional, sempre me opor à autocracia e, arduamente, defender a liderança pela competência, sou obrigado a aceitar que o pulso forte tem seu momento e lugar. E corroboro com a teoria da Liderança Situacional de Hersey e Blanchard. Em resumo: aos mais preparados, delegue. E, aos menos preparados, dê ordens.

Você, meu educado leitor, há de concordar comigo, quando digo que o que está faltando é educação — pré-requisito de liberdade, porque esta é um prato fino que poucas pessoas sabem apreciar. Recorra a sua memória, lembradiço leitor. Lembrou-se de alguém? Por faltar a elegância, os ditos “sem cerimônia” confundem tudo e cometem grosserias, contam piadas de mau gosto, invadindo a privacidade e o campo magnético das pessoas. Tratá-los com plena igualdade é sacrificá-los e deixá-los embaraçados. Por essa razão sou a favor de adequações pois, insisto, tudo depende do contexto e dos padrões pré-estabelecidos.

Arthur Schopenhauer dizia que só havia liberdade no momento de solidão. Na presença de outras pessoas, nosso comportamento se altera. “Sozinhos somos mais independentes”, o que concordo plenamente. Pois, normalmente, não estamos sozinhos. Existe o outro. Então, pensando assim, derrubadas as teses da liberdade plena que, convenhamos, em muitos casos são pura hipocrisia, e lembrando, aqui, um exemplo que reforça minha tese, o escritor existencialista Jean-Paul Sartre, defensor da liberdade, que manteve um relacionamento aberto (extremamente avançado para a época), com Simone de Beauvoir, disse: “ser-se livre não é fazermos aquilo que queremos, mas querer-se aquilo que se pode”.

Ora, meus libertários leitores. Querer não é poder. A palavra dita é linda, principalmente se fizer parte de uma frase bem construída mas, caso não se respalde na prática e verdadeiramente na ação, pode se tornar apenas um recurso linguístico, um efeito de retórica sem compromisso com a verdade, conforme temos visto até em veículos da mídia.

Liberdade — que precede à independência, exige educação, que é sinônimo de respeito.

Constato, sem nenhuma alegria, que ainda temos uma longa caminhada até aprender a sutil diferença entre usufruir e abusar da liberdade.

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.