Convidado
por Sérgio Marchetti*

Dia desses estava de folga numa bela praia. Mergulhei no mar e senti a onda passando sobre meu corpo. Uma sensação de limpeza me envolveu, enquanto submergia naquelas águas frias e salgadas. E ao emergir, uma nova onda me fez repetir o procedimento. Vieram outras, e mais outras… até que, cansado, já não aguentava furá-las como fazia antigamente. Olhei para a praia e observei que estava longe. Havia perdido a noção de distância. Procurei manter-me calmo, apesar do esgotamento, e esperei que alguma onda me levasse de volta até a areia. Mas a correnteza não vinha para o lado que precisava. A cota de calma estava se esgotando e o cortisol me informou que estava em perigo… aí veio o medo de me afogar e, só não aconteceu porque surgiu um surfista com cara e cabelo de anjo, e me rebocou até um local seguro.

Ao sair da água, estava tonto. Mas não quis comentar o aperto que passara. Óbvio que a primeira coisa que iria ouvir é: — você não tem idade para mergulhar e isso é uma atitude irresponsável. Então, me sentei, fechei os olhos e fiquei refletindo sobre o ocorrido. Eu poderia ter morrido por causa de uma distração ou ousadia. Confesso que fui sendo envolvido pelo prazer de ficar sob as ondas e não havia percebido o quanto me afastara da zona de segurança e das pessoas que lá estavam. Fiquei em silêncio. A quietude nos ajuda a desintoxicar a alma. E, como eu estava no mar, aproveitei para fazer uma analogia entre o quase afogamento e a nossa própria vida, sujeita a chuvas, ventos e correntes que nos levam a lugares indesejados.

Meu leitor mais reflexivo, você concorda que nossas vidas têm sido golpeadas por ações compulsivas que — assim como as ondas — não nos permitem parar para descansar? Os inúmeros recursos de comunicação nos massacram com informações desnecessárias e numa intensidade nunca vista. Assim, como neste episódio, as pessoas estão se distanciando umas das outras sem perceberem. Estamos sendo, por assim dizer, “afogados” por uma sucessão de serviços, novos aprendizados e venda massificada que mais se parecem com uma avalanche de ideias nos impedindo de respirar.

Determinados filósofos gregos, bem antes de Cristo, não acreditavam no acaso, e afirmavam que tudo tem uma razão de ser. Partindo daquele princípio, qual lição que devo retirar do incidente? O que devo concluir? Que talvez a vida seja uma sequência de ondas num processo contínuo de mudanças imprevisíveis?  Também posso beneficiar-me do susto como um aviso, um sinal de que depois de enfrentar muitas ondas, energia, força e equilíbrio estarão debilitados. É isso mesmo, meus perceptivos leitores, embora esperemos que a próxima onda nos traga paz e calma — que fizemos por merecer — não temos a menor garantia de que virá amena. Infelizmente não depende somente de nós. Porém, prudência e coerência jamais poderão ser relegadas a segundo plano, porque devemos estar conscientes de que “A vida vem em ondas/ como um mar/ num indo e vindo infinito…” ( L.S.)

Não se deixe afogar.

*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br