Em fevereiro de 1962 comecei minha trajetória de estudante no curso primário do grupo escolar Pio XII na capital secreta do mundo, a cidade eterna de Araxá (Minas Gerais). Eu tinha sete anos de idade e a minha mãe 28. Na parede da memória, como diz o cantor e compositor Belchior em sua música “Como nossos pais”, está registrada uma fala de minha mãe sobre uma visita feita por ela a seu tio, que era considerado um velho de 56 anos de idade. Naquela época, dados do IBGE registraram que a expectativa de vida das pessoas era 52,5 anos e o censo de 1960 mostrava uma população de 76,57 milhões de habitantes no país.

Agora em 2019, 57 anos depois, tenho encontrado ou conversado com pessoas que estão completando 60 anos de idade ao longo dos meses deste ano. As manifestações de alegria e agradecimentos por tudo que já foi vivido e também preocupações com o ciclo idoso da vida, que é finita, sempre tem permeado as conversas. Vale lembrar que a lei brasileira nº10.741 de 01/10/2003 criou o Estatuto do Idoso, definindo que esta condição passa a existir quando a pessoa completa 60 anos de idade. Também segundo o IBGE a expectativa média de vida hoje está em 76,5 anos, sendo que as mulheres chegam aos 80 anos e os homens aos 73. Já a população brasileira está estimada em 210,3 milhões de habitantes dos quais em torno de 30 milhões tem acima de 60 anos de idade, número que deverá dobrar ao final das próximas três décadas.

Existem estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) do Ministério da Economia sugerindo que a idade limite para que a pessoa seja considerada idosa passe para 65 anos devido aos níveis de longevidade alcançados atualmente. Podemos considerar que mais dias, menos dias essa mudança ocorrerá fundamentada em argumentos semelhantes aos utilizados para justificar a necessidade da Reforma da Previdência Social.

Sem querer fazer nenhum alarme, mas sendo bastante realista e pragmático, reitero que quem já chegou à condição de idoso legal precisa repensar e se reposicionar estrategicamente em função de várias variáveis que poderão impactar desfavoravelmente o seu curso de vida até o dia em que o espírito deixar o corpo. Às vezes nessa idade já se pode sentir arrepios e calafrios ao se pensar sobre onde, como e com quem morar, com que nível de saúde (condições funcionais), com quais condições financeiras, com que grau de dependência de filhos – se existirem- e do Estado liberal, com que níveis de autonomia e independência… O futuro chega a todo instante e nos desafia permanentemente com suas ameaças e oportunidades que desafiam nossas fraquezas e forças. Só chorar e se vitimizar enquanto os governantes se sucedem no poder acaba sendo muito pouco e quanto pior para os idosos, pior mesmo.