Por Sérgio Marchetti* Convidado

Dizem que para escrever é necessário ter inspiração, mas quando ela não vem, não há remédio que resolva. E, falando em remédio, outro dia comentávamos numa roda de conversa informal sobre pessoas que adoram fazer compras na farmácia. E, de imediato, me veio à mente a lembrança de um primo que tinha uma drogaria em casa, mas era advogado. Utilizava um fluxograma que funcionava bem. Vou explicar: ele tomava um remédio para dor, mas na bula dizia que carregava o fígado, então, logo depois, ele ingeria outra droga para o fígado que, por sua vez, gerava um efeito colateral no pulmão e o obrigava a usar uma bombinha que dava taquicardia… obviamente que tomava um medicamento para regular as batidas do coração. E assim, mantinha uma roda viva de remédios. Mantinha … porque faleceu. E, apenas como consolo, não houve remédio para salvá-lo. E “o que não tem remédio, remediado está” — frase que retrata o pensamento estoico de aceitação da realidade.

Um amigo, ouvindo a história, me contou que recentemente estava com uma cefaleia incômoda e decidiu consultar um médico muito idoso que, inicialmente, realizou uma anamnese completa. Mas, quando prescreveu a receita, o amigo estranhou os remédios: Cafiaspirina ou Cibalena para a dor de cabeça, chá de erva-doce, Raiz Valeriana e Elixir de Nogueira, dizendo que são muito bons para dormir e acalmar a ansiedade.

A consulta foi diferente da maioria dos atendimentos praticados atualmente em consultórios médicos. Mas os remédios são extremamente antigos. Perguntei ao amigo se não havia prescrição para Biotônico Fontoura e Emulsão de Scott. Aliás, este último, feito de óleo de fígado de bacalhau foi um trauma na minha infância. Chega a me causar náuseas só de pensar. Detestável também era o Leite de Magnésia de Phillips.

Enfim, rimos da receita, porém, por incrível que pareça, muitos daqueles remédios ainda estão à venda.

A partir daí, começamos a recordar nomes de remédios antigos. A lista é vasta. E, ao abrir a caixinha do cérebro, descobrimos, ao contrário de Pandora quando abriu sua caixa, que há uma infinidade de nomes guardados no fundinho da estante, na gaveta do cérebro e, o que é mais fascinante, é que ressurgem em nossas mentes, nomes antes esquecidos pelos canais da memória. E vêm Melhoral, Aspirina, Iodo, Merthiolate (era nosso terror porque ardia mais do que o ferimento), Mercúrio, Auris Sedina para dor de ouvido, Corifina para acabar com a ronqueira, Adelgazan para a obesidade; Pasta Medicinal Couto para estomatite e gengivas descarnadas, Vick VapoRub que serve para tudo até hoje. Alka Seltzer para acidez e indigestão. Pomada Minâncora, Creme Nívea, Licor de Cacau Xavier (poderoso vermífugo) e, para perfumar as damas, Cocaína En flor. Isso mesmo!

Leitor saudosista, caso a leitura tenha ficado cansativa, pingue duas gotas do Colírio Moura Brasil e sorria, porque rir ainda é o melhor remédio.

*Sérgio Marchetti é consultor organizacional, palestrante e Educador. International Certification ISOR em Holomentoring, Coaching & Advice (coaching pessoal, carreira, oratória e mentoria). Atuou como Professor de pós-graduação e MBA em instituições como Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, Rehagro e Fatec Comércio, entre outras. É pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e em Educação Tecnológica. Trinta anos de experiência em trabalhos realizados no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br