A observação e análise dos fenômenos que acontecem cotidianamente e dos processos que os geram são cada vez mais imprescindíveis nesses tempos de permanentes e velozes mudanças. Mas para se posicionar e se reposicionar estrategicamente em meio a tudo isso – e para melhor prosseguir – é preciso estar muito atento para perceber os sinais que são emitidos pelos meios em que estamos. Eles podem ser observados de vários ângulos que estão presentes na vida familiar, no trabalho, na cidade, no país… É óbvio que cada nível desses precisa ser compreendido, ponderado e relativizado em seus impactos para nos ajudar nas elaborações necessárias ao enfrentamento de cada momento. Se tudo começa com a gente e muitas são as expectativas por uma sociedade mais justa e democrática, o desafio fica por conta das percepções que cada pessoa tem tanto do que já aconteceu quanto do que está para acontecer. Esse é o ponto que quero abordar. O que proponho é uma autoavaliação sobre a maior ou menor capacidade que cada um tem em relação à percepção de sinais e outras reações que precisam ser decodificadas e bem percebidas.
De repente seu chefe no trabalho começa a lhe falar uma série de coisas, sem ir direto ao ponto. Quem é mais atento pode ficar com uma “pulga” atrás da orelha tentando entender o que ele está pensando e onde quer chegar mesmo sem deixar transparecer. Para alguém mais desatento aquela falação do chefe pode até ser vista com sensação de alívio no momento em que ele para de falar. Lá um belo dia, e após não perceber o que o chefe queria dizer, vem a comunicação de sua demissão. A causa pode estar na falta ou incapacidade de alinhamento entre o subordinado e seu chefe. Isso fica ainda mais nítido num ambiente de trabalho em que “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, numa conjuntura de vigência da reforma trabalhista e precarização das relações de trabalho. Em momento tão adverso fica evidente que o desatento não percebeu que o gato subiu no telhado e só despertou quando ele caiu.
Num nível macro é interessante verificar a situação de um Ministro ou Secretário de estado sendo “fritado” e enfraquecido pelo seu chefe que quer o seu posto. Ele fica dando estocadas, mas não quer ter o ônus de fazer a demissão e espera sinceramente que seu subordinado peça para sair. Diante da não percepção e do tempo passando chega-se facilmente a um momento em que uma substituição é especulada pela manhã, e negada, mas acaba acontecendo no final da tarde.
Cada leitor que forçar um pouco a memória poderá se lembrar de muitas situações pessoais, familiares ou profissionais em que o cenário mudou, “o gato subiu no telhado”, como diz a expressão popular, e as mudanças aconteceram mesmo sem ter sido percebidas por muitos, apesar dos sinais que foram emitidos.