Na manhã do sábado, 6 de junho, um professor de biologia do ensino médio na rede privada saiu de casa por volta das 8h, devidamente paramentado com a máscara no rosto e álcool em gel na bolsa. Seu destino prioritário era um laboratório de análises clínicas distante quatro quarteirões de sua casa. O pedido do exame de sangue para verificação da glicemia em jejum, colesterol, triglicérides e os clássicos da tireóide datava do final de janeiro. A correria louca de sempre fez com que tudo fosse sendo adiado. Depois veio o período do Carnaval oficial de Belo Horizonte com sua generosa duração para a alegria dos blocos nas rua. Em seguida veio a pandemia da Covid-19, isolamento social, ensino à distância e o fique em casa. Mas o professor percebeu, em função dos sinais dados pelo organismo, que algo havia se alterado em relação à sua tireóide e que não dava para postergar mais a realização dos exames solicitados no início do ano. Na curta caminhada foi observando alguns pequenos detalhes, ah! sempre os detalhes, que poderiam mostrar como está a disciplina das pessoas para cumprir as regras sanitárias em vigor.

Ao sair de casa contou 7 gatos na primeira esquina e viu o senhor Zé Maneco sem máscara, tomando sol, sentado numa cadeira colocada no passeio. Cumprimentos de bom dia foram trocados.  No quarteirão seguinte um motorista de automóvel de transporte por aplicativo com a máscara no queixo aguardava a chamada para atender o próximo cliente. Enquanto avançava na caminhada passou por ele uma pessoa sem máscara caminhando rapidamente. Chegando ao quarteirão de seu destino o professor viu uma pessoa tomando café o comendo pão encostada num veículo. Em seguida passou na porta da padaria onde só estava o agente de segurança e alguns metros à frente chegou à recepção do laboratório onde ficou em quinto lugar na fila para atendimento. Lá tudo estava funcionando em conformidade com os padrões sanitários.

O professor dispensou o lanchinho oferecido ao final do atendimento e, ao voltar para casa, passou na padaria, onde ficou em quarto lugar na fila formada na calçada, com todos usando máscaras. Enquanto aguardava pacientemente, ainda na calçada, a sua vez para ser atendido chegou um senhor idoso usando máscara, aparentando em torno de 65 anos de idade, que ignorou a fila, foi direto ao balcão, mas sem manter distância de outros clientes, escolheu seus produtos e saiu do local com um copo de café na mão. O agente de segurança justificou às pessoas da fila que é difícil tentar frear aquele perfil de cliente, pois poderia causar muita confusão no local.

O professor deixou a padaria após as compras e foi para casa observando mais detalhes do seu pequeno trajeto. Mais gente já estava circulando pela rua e a maioria usava máscara. Um quarteirão antes de sua casa o professor viu na calçada próximo ao meio fio uma máscara, 5 copos plásticos e um saquinho plástico contendo dejetos de um animal. Finalmente o professor chegou em casa por volta das 9h, cumpriu os padrões de segurança estabelecidos. Agora é aguardar os resultados e marcar uma consulta com o endocrinologista do seu plano de saúde complementar que, aliás, não deu nenhum desconto para seus usuários que nesse caso, ainda não foram tratados como clientes.