A estratégia de combate à disseminação da Covid-19 no modo pandemia buscou ganhar tempo em relação ao pico dos casos de contaminação e deixou claros os limites do nosso sistema de saúde. Mesmo a Constituição Brasileira estabelecendo que “a saúde é um direito de todos e um dever do Estado”, o grande medo nesses 4 meses já passados foi e ainda continua sendo as conseqüências que poderão advir se ocorrer um colapso do Sistema Único de Saúde e do sistema privado operando direto com clientes particulares ou com planos de saúde regulamentados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar.

No caso da Covid-19 faz parte do processo de tratamento na fase mais aguda da infecção a internação das pessoas numa UTI de algum hospital seja ele público, filantrópico ou privado. É importante lembrar que mesmo nos tempos antes da pandemia nunca foi fácil para a maioria das pessoas encontrar uma vaga disponível na UTI para uso imediato. Quem já passou por uma situação como essa sabe muito bem o tamanho das dificuldades enfrentadas.  Mas onde estão essas unidades no país, principalmente nesse momento em que a disseminação da doença está se generalizando e o seu pico pode ainda estar por vir?

Partindo da premissa de que os fatos e dados não deixam de existir mesmo quando são ignorados ou negados, considero oportuno fazer uma referência ao artigo “Com pacientes longe das UTIs no interior, epidemia deve matar mais”, de Fernando Canzian, publicado pela Folha de São Paulo em 6 de julho.

Nele verifica-se que:

“Embora as 27 capitais brasileiras agrupem 24% da população, elas têm quase a metade dos leitos de UTIs para adultos no país.

Já as unidades disponíveis no interior estão concentradas em cidades com mais de 100 mil habitantes (cerca de 300 municípios).

Isso leva a que apenas 6% das cidades do Brasil tenham leitos de UTI —e que aproximadamente 100 milhões de pessoas vivam em locais sem esse tipo de atendimento.

Correm maior risco 32 milhões de brasileiros (três vezes a população de Portugal, por exemplo) que residem em 3.670 municípios com até 20 mil habitantes”.


Como se vê, isso é o que temos para hoje e o jeito é fazer tudo o que for possível e que dependa de nós para evitar a necessidade de uma UTI. Mas sei que não dependemos só de nós, pois não existe processo sem a cooperação de todos os envolvidos em busca de um resultado valioso.