Como se já não bastassem tantas incertezas no horizonte o mês de abril ainda começa amargando o chocolate a salgando o bacalhau. Uma ação liderada pela Arábia Saudita vai reduzir a produção de petróleo em 1,16 milhão de barris por dia até o fim do ano. A medida terá a participação de oito dos 13 membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). A notícia, divulgada no início desta semana se soma às intenções da Rússia de cortar sua oferta do produto em 500 mil barris por dia considerando os níveis de produção de fevereiro. Isso eleva os cortes voluntários combinados dos membros da Opep + (que inclui os países-membros e a Rússia) em cerca de 1,66 milhão de barris por dia. A notícia fez disparar as cotações internacionais. Os contratos futuros do petróleo do tipo Brent, referência para a Petrobras, abriram a semana com alta de 6 por cento na Bolsa de Londres, cotados a 84,70 dólares por barril.
O petróleo do tipo WTI, referência para o mercado americano, chegou a subir 6,3 por cento no mercado futuro em Nova York, cotado a 80,41 dólares o barril. É a cotação mais alta desde 26 de janeiro. E já se especula se o barril do petróleo poderá voltar a superar 100 dólares, algo que não ocorre desde o meio do ano passado. A decisão já provocou reclamação de quem mais consome petróleo no mundo. O governo americano criticou a decisão já na noite do domingo, acusando tanto a Opep quanto a Rússia de trabalharem no sentido de forçar uma alta na inflação americana.
O petróleo sempre foi uma commodity mais explosiva da face da terra.. A Opep diz, que a alta dos preços e a escassez do produto são o resultado da decisão dos Estados Unidos de dificultar as exportações da Venezuela e do Irã, e também devido às restrições europeias ao petróleo da Rússia, em uma reação à invasão da Ucrânia que vem se arrastando desde fevereiro do ano passado. E enquanto americanos e sauditas se estranham, a China aproveita para aumentar sua influência. Em março, autoridades chinesas intermediaram uma retomada das relações entre os arquirrivais Arábia Saudita e Irã.
O governo saudita iniciou o processo de se juntar à Organização de Cooperação de Xangai, liderada pela China. Tudo isso contribui para mais tensão e disputa no mercado de petróleo, com consequências óbvias sobre os preços. Apesar de ser primavera no Hemisfério Norte, quando a demanda por energia para aquecimento é menor, ainda assim a decisão deverá pressionar a inflação, dando mais ênfase ao aperto na política monetária pelos bancos centrais dos Estados Unidos, Zona do Euro e Grã-Bretanha. Como não poderia deixar de ser, os mercados internacionais oscilaram bastante neste inicio de semana.
As ações de empresas petroleiras subiram devido à expectativa de lucros mais elevados, ao passo que as ações de empresas aéreas sofreram. O combustível de aviação representa uma parcela importante dos custos dessas companhias, e seus preços são reajustados mais rapidamente. No geral, a notícia é ruim para as bolsas, apesar de alguns setores relevantes poderem ser beneficiados no primeiro momento. Os primeiros 100 dias do presidente Lula não parece nada fácil.
Problemas no mundo e no Brasil não faltam. Pesquisa do Datafolha mostra que o desempenho da economia brasileira é preocupante na visão do eleitorado. O Governo segue batendo nos juros, o Banco Central não sinaliza baixa, o mercado tentar acreditar no arcabouço fiscal e o compasso é de esperar pra ver. Quem sabe o coelhinho da páscoa traga boas novas para este trimestre que está só começando.