Quem diria. Para muitos, era impossível os Estados Unidos da América ter suas notas rebaixadas pelas agências de classificação de risco. Muitos economistas defendem a força do dólar americano com unhas e dentes e atestam que títulos do governo dos EUA são os mais seguros do mundo. Opa. Pera lá. Esta semana a agência de rating Fitch Ratings rebaixou a classificação de crédito soberano dos Estados Unidos, fazendo eco a um movimento semelhante realizado há mais de uma década pela S&P. O país perdeu sua classificação AAA e foi rebaixado para AA+. Essa classificação AAA era mantida na Fitch desde pelo menos 1994. O rebaixamento ocorre como uma consequência tardia da crise do teto da dívida que paralisou Washington há alguns meses, antes de uma prorrogação de última hora. O país corria o risco de ficar sem dinheiro para honrar os seus compromissos. Foi só um leve susto.
De acordo com a Fitch, (que esta semana elevou a Ratings do Brasil), houve uma deterioração constante nos padrões de governança dos EUA nos últimos 20 anos, especialmente em questões fiscais e de dívida. Mesmo com o acordo bipartidário de junho para suspender o limite da dívida até janeiro de 2025, os repetidos impasses políticos em torno do teto da dívida e as soluções de última hora minaram a confiança na gestão fiscal do país. E olha que este movimento ocorre exatamente na semana que as empresas de tecnologia do país anunciaram resultados maravilhosos.
Alguns especialistas consideram que a classificação AA+ ainda é generosa para a realidade fiscal americana. Para vocês terem uma ideia, atualmente, a dívida americana atinge US$ 32,6 trilhões, mais do que o dobro dos US$ 16,7 trilhões registrados há uma década, e o país enfrentou um déficit de US$ 1,39 trilhão nos nove meses até junho, pagando cerca de US$ 1,3 bilhão em juros sobre sua dívida diariamente. Repito, por dia. Bizarro para um país que é visto como o risco zero no mundo.
Estima-se que o governo americano pague mais em serviço de juros da dívida do que na defesa nacional até 2027, o que é paradigmático para a maior potência militar do mundo. A maneira como o anúncio foi feito levanta curiosidades e levantará questionamentos válidos. A reação inicial dos mercados deve ser negativa, como já está sendo observada neste restante de semana porém, é possível que o assunto seja esquecido nos próximos meses, diferente do que ocorreu no rebaixamento em 2011. A cada notícia boa que leva os investidores a euforia para a retomada do crescimento vem uma ruim para frear o otimismo. Seguimos nos altos e baixos da economia mundial. Qualquer vento contrário nos EUA ou na China provoca uma tempestade no Brasil. Seguimos com nossos problemas internos. Queda da inflação, queda dos juros, ajuste fiscal, acordos políticos e assim vamos caminhando e seguindo a canção.