Convidado 
*por Malco Camargos

Desde as eleições americanas de 1936, quando George Horace GALLUP (1901-1984), fundador do Gallup previu a vitória de Franklin Roosevelt sobre Alf Landon nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, as pesquisas eleitorais se disseminaram por todo o mundo. No Brasil, já em 1942 o IBOPE era inaugurado e iniciava o trabalho de realização de pesquisas.

De lá para cá o mercado brasileiro se pulverizou e se especializou e supera os dois bilhões de faturamento anual. Contudo muito ainda se desconhece sobre essa atividade.

Pesquisas são instrumentos de escuta da sociedade, que podem ser realizados por meio de computadores, smartphones, telefones e face a face. Em todos esses meios de coleta se registram informações que retratam um determinado momento. E aí começa o mau uso da pesquisa.

As informações coletadas até permitem analisar tendências mas não são determinações de futuro. Entre a coleta dos dados e o fato a que ele se refere pode haver alterações, que mudam todo o resultado. Diga-se de passagem, é bom que haja alterações pois pesquisa é um instrumento estratégico que atores relevantes usam para interferir e mudar a tendência dos fatos.

Está aí o primeiro e o mais comum dos maus usos que se fazem das pesquisas – analisar o resultado como se ele fosse determinante da apuração das eleições e comparar o resultado apontado pela pesquisa com o resultado das urnas para aferir a qualidade de um levantamento.

Outro erro muito comum é achar que a pesquisa pode ludibriar os eleitores quando aponta um resultado diferente da realidade. É comum no mercado político, em meios às equipes estratégicas das campanhas, a tentativa de buscar um resultado mais favorável ao seu candidato, ampliando seus números ou diminuindo a força dos seus oponentes. Essa fraude nos números dificilmente impacta nos eleitores que, alheios à força de um candidato ou outro, votam muito mais a partir de critérios de confiança ou proximidade do que para maximizar a chance de um candidato ou outro ser eleito.

Os bons profissionais de campanha e os políticos éticos e responsáveis usam a pesquisa não como fim, mas como meio. Ao ler as entrelinhas dos resultados, ao fazer a segmentação das opiniões e comportamentos, eles orientam suas ações, propostas e discursos para públicos específicos e, com isso, conseguem aproximar sua imagem do que os eleitores esperam da atuação de um político ou candidato.

As pesquisas ajudam a informar a campanha que, com seu uso, trabalha a gestão da informação gerando uma imagem mais próxima da expectativa do cidadão. Neste artifício dois são os caminhos para quem faz o bom e o mau uso da informação. No lado negativo, a construção artificial de uma imagem pode ser rapidamente abandonada mostrando no exercício do poder uma figura diferente daquela apresentada durante uma campanha e, neste caso, encurtando a carreira de um político. Agora, já do lado positivo, políticos que aprendem a fazer uso da pesquisa diuturnamente aproximam cada vez mais sua imagem e seus atos em relação ao que os cidadãos esperam e conseguem uma carreira mais próspera na área.

*Malco Camargos é Doutor em Ciência Política, diretor do Instituto Ver Pesquisa e Estratégia e professor da PUC Minas.