Surge dentro do Brasil outro país, ele não se define por limites geográficos, muito menos por qualquer regra de soberania, ele está presente num ciberespaço ideológico, num jogo de produção de caos e de crises, trata-se do Bolsonaristão, o país dos sonhos de minorias intolerantes, mitômanos compulsivos e fascistas de ocasião.
Neste país fictício, mas de muita realidade nas mentes de dirigentes autoritários e contestadores das artes e das ciências, só há espaço para uma verdade e para uma crença: O mito falou, está falado! Todo poder ao mito, pois o mito está sofrendo sem poder.
Não há tolerância para com aqueles que pensam diferente. Não se aceita que a democracia liberal seja composta por três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, que precisam funcionar de maneira harmônica e independentes. E que um fiscaliza o outro e a sociedade fiscaliza todos eles. Não aceita os partidos políticos e aqueles que lidam com a política são bandidos a serem eliminados.
No Bolsonaristão, esse país trágico de pensamento único, de apoio irrestrito a forças repressivas e de ataques permanentes contra o Congresso Nacional e a Suprema Corte, todo dia é dia de crise institucional.
Governam os que amam andar armados, usar camisas da seleção brasileira de futebol, fazer apresentações públicas de apoio às ditaduras. Mandam os que falam mais alto, os que agridem jornalistas e aparecem mais aqueles que se dizem tementes a Deus, mas detestam cumprir seus ensinamentos. Grupos de pastores vão doutrinando suas massas de fiéis, enquanto a pandemia tira mais um dia de pagamento do dízimo.
Nas terras imaginárias e doentias do Bolsonaristão não pode existir liberdade de imprensa. Nem há lugar para manifestações contrárias ao pensamento único emanado de mentes deturpadas. O clima é de censura e ameaça para quem falar o que pensa.
Entre os princípios basilares do Bolsonaristão estão os permanentes ataques a Governadores e contra aqueles que deixaram de participar do governo. A postura da maior liderança é sempre se pousar de vítima. De guardião moral das causas nacionais e de dono da razão. Enquanto milícias podem estar se armando em defesa própria na calada da noite.
No Bolsonaristão, ministro da Educação é sem educação e ministro da Saúde precisa dar espaço para o crescimento de uma pandemia. O Ministério da Agricultura adora liberar agrotóxicos e o do Meio Ambiente fecha os olhos às invasões de terras indígenas e incêndios florestais.
Na economia, não faltam os arroubos da doutrina liberal, mesmo que está esteja vivendo seu maior momento de ocaso nesse século XXI. Para os bancos tudo, para as políticas sociais, o mercado. Porque é tão difícil liberar R$ 600,00 míseros reais para a população mais pobre e vulnerável? Porque as micro e pequenas empresas nunca têm vez? Porque apesar de se liberar 1,2 trilhão de reais para os bancos as taxas de juros seguem na estratosfera e apenas 20% de dinheiro novo foi emprestado?
O Líder do Bolsonaristão sonha todos os dias com o fechamento das instituições democráticas, com a volta do AI 5 e com poderes ditatoriais. Acha-se o guardião da moral e representante do Criador na terra. Seus seguidores lhe alimentam e este alimenta seus seguidores num círculo vicioso de exaltação da loucura.
Nada mais aderente ao Bolsonaristão do que “lives” doe seus filhos, mensagens agressivas pelo Twitter e possível produção permanente de “Fake News”, enquanto robôs aplaudem o líder em decadência.
No silêncio comprometedor das Forças Armadas, no gozo das benesses do poder dos militares de pijama, nas alianças de ocasião com políticos de reputação duvidosa, o país enterra seus mortos e amplia cemitérios.
No Bolsonaristão o esporte favorito é conspirar contra a democracia diariamente, de preferência mobilizando fanáticos numa tentativa de implantação populista de um fascismo tropical. Até quando o Brasil e suas instituições vão suportar tolerar esta intolerável invasão? Solicito uma leitura atenta da Constituição de 1988. Ela foi feita para, entre outras coisas, defender a ordem democrática e o Estado de Direito.
*Paulo Roberto Bretas / Economista e Professor de História Econômica