O isolamento social rigorosamente observado desde o início da pandemia do novo coronavírus em Belo Horizonte levou à exaustão um casal e seus dois filhos. O pai de 40 anos, a mãe de 35, um menino de 8 e uma menina de 6 não se aguentavam mais dentro do apartamento de 98 metros quadrados e resolveram flexibilizar, “chutar o balde” para aliviar um pouco as tensões trazidas pelas incertezas.
A justificativa para se encontrar com outras pessoas depois de tanto tempo de isolamento foi promover uma comemoração dos emblemáticos 40 anos de nascimento de um membro da família na noite do sábado, 16 de maio. Também acabou sendo um passo inicial rumo à sonhada flexibilização do isolamento social, bastante pesado àquela altura dos acontecimentos para quem nunca vivera algo semelhante antes. Foram convidadas apenas 10 pessoas, sendo elas alguns parentes mais próximos do casal como pais, mães, irmãos e irmãs e dois amigos dos tempos de colégio, um arquiteto e uma advogada que, aliás, são casados.
Aos poucos todos chegaram ao apartamento em torno das 20h, horário definido para o início da comemoração. Foram recebidos pelo aniversariante na portaria do edifício devido ao sistema de segurança rígido para identificar facialmente os visitantes. A advogada chegou ofegante e queixando-se do desconforto visual dos óculos embaçados devido ao uso da máscara. E o arquiteto sentiu-se incomodado e inseguro devido ao tempo transcorrido entre a saída do automóvel e a abertura da porta do edifício.
A comemoração durou aproximadamente 3 horas e todos os presentes se livraram de suas máscaras ao se sentarem à mesa de jantar expandida e nos sofás. Depois de muitas conversas, comes e bebes chegou a hora de cantar parabéns para o aniversariante e soprar as velas acesas sobre o bolo, o que foi feito pelas duas crianças. Elas se esforçaram bastante até atingir o objetivo, mas acabaram lançando perdigotos sobre o bolo. Quase todos os presentes não se incomodaram com o ocorrido, a começar pelo aniversariante, e fecharam a comemoração comendo pedaços do bolo e os tradicionais docinhos. Entretanto o arquiteto sentiu-se incomodado com a falta de cuidados com o bolo e educadamente recusou o pedaço que lhe foi oferecido alegando se sentir saciado pelo o que já lhe fora servido. Quando tudo terminou o arquiteto voltou para casa com o propósito de não mais participar de festas de aniversário para não ficar constrangido diante da possibilidade de ter que ingerir algo que ficou aquém dos padrões de higiene. Segundo ele, se as pessoas não ligam para essas coisas, mas ele liga e se incomoda.
E você caro leitor, se fosse um dos convidados teria ido à festa de aniversário e também comeria um pedaço do bolo?