Lá num dia não tão belo do verão do ano passado ficamos sabendo que a Covid-19 tinha chegado ao Brasil e logo veio a informação sobre a primeira morte causada pelo vírus. Fomos surpreendidos pelo acontecimento que chegou trazendo medo, incerteza, insegurança e ansiedade diante do que estaria por vir.
O que e como agir diante da nova conjuntura? Naquele momento, desenhar cenários era mais difícil ainda. Desde o início ficou claro que não havia unidade de ação entre os entes federativos para combater o problema, que era nacional e mundial, conforme reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
De lá para cá quase todo mundo sabe ou tem alguma noção do que foi feito ou deveria ter sido feito. Mas hoje, proponho uma reflexão sobre o processo de vacinação. Tomo como exemplo o município de Belo Horizonte.
Na semana passada, entre os dias 3 e 7 de maio, as pessoas da faixa etária de 64 a 67 anos esperavam receber a segunda dose da vacina Coronavac, produzida em parceria pelo Butantan com a chinesa Sinovac. Essas pessoas começaram seu ciclo de imunização em abril e receberam o cartão de vacinação marcando a segunda dose para até 28 dias após a primeira agulhada no braço, o que seria em maio. Depois dessa agulhada, surgiu naturalmente a expectativa de algo bom para acontecer – a imunização completa – mantida pela municipalidade até a tarde da sexta-feira, 30 de abril.
Só a partir dai é que a Prefeitura começou a assumir que não tinha, em estoque, as quase 80 mil doses da Coronavac necessárias para o cumprimento do cronograma para todas as pessoas dessa faixa etária. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde a causa foi a orientação do Ministério da Saúde para que não se reservasse estoque para garantir a segunda dose, pois outras remessas chegariam em tempo hábil. Porém, isso não aconteceu e, com isso, o cronograma de vacinação foi atrasado. Essa informação foi repassada via imprensa pois, para quem consultou o portal da Prefeitura até o dia 06 de maio, a informação era conflitante e dizia que havia estoque de Coronavac, o que não era verdade. As causas internas dessa diferença cabe à Prefeitura explicar.
O fato é que ficou uma frustração para quem tinha a expectativa de concluir o processo de imunização no prazo marcado. Alguns até compareceram aos postos esperando “dar uma sorte” e outros ainda tentam entender os impactos para a saúde de esperar mais 10 ou 15 dias além do prazo inicialmente fixado. Hoje, 11 de maio, a Prefeitura está aplicando a segunda dose apenas para os que tem 67 anos, fazendo uma “rapa” do estoque e juntando com algumas doses que recebeu do Ministério da Saúde. Para os idosos de 64 a 66 anos resta seguir aguardando.
Essa acaba sendo uma boa oportunidade para refletirmos sobre nossas reações diante de um processo sobre o qual não temos autoridade nem controlamos, como no caso da pesquisa, produção, aquisição, distribuição e aplicação das vacinas. Se a expectativa for maior do que a realidade acabaremos sofrendo – e muito.
O que nos resta é treinar nossas competências emocionais para aumentar a paciência, a perseverança e a resiliência para nos fortalecer no enfrentamento de tantos problemas que a pandemia trouxe. Isso também não deixa de ser um cuidado mental que devemos ter.