Ontem, infelizmente, atingimos um recorde que, em hipótese alguma, merece ser comemorado. Já ultrapassamos a marca de 100 dias (101 hoje) desde aquele fatídico 18 de março, data em que a prefeitura de Belo Horizonte expediu o Decreto 17.304, ordenando a suspensão do alvará de bares e restaurantes para conter a propagação do coronavírus.
Na época, nenhum de nós tinha ideia de quanto tempo essa suspensão duraria. As incertezas também impediam qualquer tipo de estratégia capaz de minimizar os prejuízos ou até mesmo salvar algumas empresas da falência.
Há 100 dias vivemos um pesadelo que ainda não acabou. Na ilusão de uma solução eficaz, recorremos a inúmeros artifícios: demissões, auxílios do governo, suspensão temporária dos contratos de trabalho, redução da jornada dos colaboradores que conosco continuaram, férias... Hoje, chegamos à conclusão de que todas essas medidas paliativas foram em vão.
Há 100 dias tínhamos em operação desde casas novas, com pouco menos de cinco anos de estrada, mas ansiosas por fazerem história na cidade, àquelas com 20, 25 anos de mercado, que já eram marcas emblemáticas do nosso patrimônio turístico e gastronômico. A semelhança entre elas: todas sucumbiram à falta de faturamento, à falta de informação e à falta de transparência do Poder Público.
Há 100 dias o nosso segmento espera ansiosamente por medidas que, de fato, sejam mais assistencialistas. Nem preciso citar aqui todas as condições que já nos propomos a cumprir para trabalhar com segurança e, sobretudo, oferecer segurança a clientes e colaboradores.
A Prefeitura sabe (e reforço) que jamais queremos reabrir a qualquer preço, a qualquer custo. Muito pelo contrário. Mais do que nunca sabemos da importância de conter o vírus. Mas mais do que nunca sabemos, também, que é impossível a administração pública fechar os olhos para um setor que, indiscutivelmente, é o grande gerador de renda para esta cidade, ou melhor: é a cara desta cidade.
Há 100 dias nossa realidade era outra. Belo Horizonte era a Capital Nacional dos Bares e Restaurantes e reconhecida internacionalmente como Cidade Criativa da Gastronomia pela Unesco. Hoje o horizonte escancarado não é nada belo. Pelo contrário: temos uma capital dizimada. Cerca de 25 a 30% dos estabelecimentos de alimentação fora do lar não vão mais voltar à ativa, mesmo quando a pandemia estiver sob controle. Essa semana vários foram ceifados por uma crise, que hoje parece estar muito mais vinculada a ranços políticos do que à saúde pública.