No dia 15/02, segunda-feira do cancelado Carnaval, diversos meios de comunicação divulgaram a perda de 229 doses da vacina contra a Covid-19 na Policlínica de Igarapé, em Minas Gerais. Segundo as explicações iniciais dadas teria ocorrido uma falha no circuito elétrico, que ocasionou uma pane no sistema de refrigeração do equipamento que armazenava as vacinas no final de semana. As doses das vacinas deveriam ser mantidas numa temperatura que variasse de 2°C a 8°C, mas o equipamento marcava 36°C quando foi aberto na manhã daquela segunda-feira.
Em casos como esse em que a coisa “dá ruim” sempre aparecem os que procuram os culpados pelo acontecido, os que tentam uma justificativa salvadora de todos os envolvidos e até alguns poucos que tentam encontrar as causas do problema. Nesse caso das vacinas, a escassez do bem no momento em que o processo de imunização se inicia a passos lentos faz com que o sentimento de perda pareça ser ainda maior, principalmente diante da faixa etária a quem se destinava.
Ao analisar as causas da pane elétrica a primeira coisa a se fazer seria buscar um histórico, preenchido com fatos e dados, sobre a utilização e manutenção do equipamento. Se não houver tais registros, o jeito é fazer um trabalho quase artesanal e arqueológico pra encontrar o retrospecto do aparelho. É bem provável que a expressão “falta de” comece a surgir. Provavelmente surgirão afirmações como falta de manutenção eletromecânica, falta de recursos financeiros para a substituição de equipamentos com a vida útil vencida, falta de treinamento para os funcionários do setor, falta de energia momentânea na região…
O fato é que a gestão da manutenção ainda é uma grande lacuna a ser preenchida em todos os níveis da sociedade brasileira. Podemos começar pela manutenção do próprio corpo dos seres humanos, de suas moradias, dos locais em que trabalham, estudam ou das vias públicas nas quais transitam ou nos veículos em que se deslocam por terra, água ou ar, isso para citar apenas algumas possibilidades. Classicamente podemos considerar que a manutenção pode ser corretiva, preventiva ou preditiva, mas é grande a prevalência da manutenção corretiva. Se olharmos para os seres humanos veremos que muitos deles só procuram os profissionais da saúde quando algum problema surge nos dentes, no coração, nas glândulas endócrinas, no sistema neurológico, no sistema urológico… Outras vezes só se percebe que a calha do telhado de uma casa está entupida de folhas quando a água da chuva inunda a sala à procura de um caminho para escoar.
Quero realçar a imperiosa necessidade que cada um de nós deve ter perante a manutenção, com prevalência da ação em detrimento da omissão. Essa matéria é longa e podemos voltar a ela outras vezes.