Os fatos e dados colhidos de maneira adequada não deixam de existir mesmo quando são ignorados, negados ou justificados por uma desculpa esfarrapada. Mas se o que mais temos são problemas que exigem soluções, o Dia do Trabalhador nos permite reconhecer que a coisa está feia, sem contudo apontar como despiorar, estancar ou melhorar.
A economia não deslancha após dois anos de recessão econômica e outros três de crescimento do PIB em torno de pífios 1%. Pensando bem, quem, em sã consciência, pode se considerar seguro no trabalho em que atua? Talvez possamos nos lembrar de quem escolheu ser um servidor público concursado, amparado pela estabilidade, mas preocupado em manter direitos adquiridos. É bom lembrar que boa parte de estados e municípios simplesmente quebrou e agora só lhes resta tentar renegociar dívidas, fazer reformas administrativas “enxugantes” na estrutura, parcelar o pagamento dos salários mensais dos servidores do poder executivo e do décimo-terceiro salário que, aliás, há muito tempo não são reajustados. Uma boa e excepcional lembrança, que até causa inveja a quem está de fora, vem dos servidores concursados e estáveis dos Poderes Judiciário e Legislativo. O Poder Judiciário teve aumento de 16,4% para os Ministros do Supremo Tribunal Federal, o que gerou um efeito cascata aplicado em toda a carreira da magistratura. Vem também a lembrança de outras possibilidades não estáveis para quem consegue ser contratado pelo recrutamento amplo do serviço público e também através de contratos de prestação de serviços terceirizados.
Outra lembrança importante – e preocupante – foi trazida pelo IBGE ao divulgar na véspera do feriado de primeiro de maio os resultados da Pnad Contínua do primeiro trimestre de 2019. Foi registrado um aumento na quantidade de pessoas desempregadas cujo índice chegou a 12,7% da população economicamente ativa, o que equivale a 13,4 milhões de pessoas. Os desalentados, aqueles que desistiram de procurar trabalho, chegaram a 4,8 milhões, o que resultou num crescimento de 3,9% em relação ao trimestre anterior. Nesses tempos de muito “achismo” é importante lembrar que a metodologia da pesquisa da Pnad Contínua prevê uma visita a 211.344 casas em cerca de 3.500 municípios. O IBGE considera desempregado quem não tem trabalho e procurou uma ocupação nos 30 dias anteriores à semana em que os dados foram coletados.
Também fica difícil não se lembrar dos resultados trazidos pela reforma trabalhista após 18 meses de vigência. A premissa que justificou sua aprovação era de que traria um significativo aumento do número de vagas para combater o desemprego, já altíssimo em 2017.
Agora, uma nova proposta de reforma, a da Previdência Social, também sinaliza grandes efeitos como panaceia para a maioria dos males que afligem o país.
Entre as reflexões e pensamentos que o Dia do Trabalhador nos enseja é bom que nos coloquemos no lugar das pessoas que fazem parte das estatísticas do desemprego crescente nesse início de ano. Quanto pior, pior mesmo e os números não mentem. Só para ilustrar, basta conferir a quantidade de jovens na faixa de 16 a 24 anos procurando uma primeira oportunidade de trabalho que, quando surge no meio de tanta escassez, ainda traz exigências absurdas, como experiência mínima de um ano na função. O que pensar de alguém com 50 anos de idade, que acabou de ser demitido de uma prestadora de serviços terceirizados, que fica imaginando onde encontrar nova oportunidade de trabalho após o fim do seguro desemprego?
De toda maneira a gente vai tentando, levando, combatendo a depressão e se reposicionando sem negar a realidade, apesar de todos os pesares que nos cercam. É o que temos para hoje, infelizmente.